O retorno aos palcos de Dallas, um ex-stripper que agora gerencia uma espécie de “Clube das Mulheres”, lança uma questão para quem assiste ao longa Magic Mike: será que o diretor Steven Soderbergh fez este filme como uma homenagem a Matthew McCounaghey? O ator, que começou como uma promessa e colaborando com diretores como John Sayles, direcionou boa parte de sua carreira a construir um corpo plastificado, desses que fazem sucesso em casas de strip-tease. E a cena em questão parece uma comemoração de sua vitória nesse quesito.
Mas Soderbergh, um diretor de altos e baixos, apesar de claramente celebrar McCounaghey, utiliza o universo dos strippers para investigar o período de crise financeira que atingiu o americano médio. Dallas nem é o protagonista de Magic Mike. Este posto é ocupado por Mike, o Magic do título, vivido pelo onipresente Channing Tatum, um jovem idealista cujo sonho é construir móveis de qualidade, mas que, enquanto não consegue abrir o próprio negócio, usa o corpo malhado e depilado para juntar dinheiro.
Neste sentido, este é um filme sobre a construção do sonho, que trata a profissão do protagonista como uma alternativa encontrada por jovens com ele — e alguns não tão jovens assim — para enfrentar a recessão. A cena em que Mike vai ao banco em busca de um empréstimo deixa clara a posição de Soderbergh: o diretor faz questão de se mostrar ao lado dos mais fracos e oprimidos diante da perversidade de um sistema em colapso, onde as instituições fazem de conta que continuam imunes à crise.
Um discurso idealista que evoca clássicos de Hollywood, mas que nos dias de hoje, além de ingênuo demais, não oferece muito ao debate. Os personagens frouxos não ajudam a dar credibilidade ao roteiro e mesmo quando alguns atores tentam dar um diferencial para seus papéis esbarram num julgamento que o próprio filme faz de suas crias. Se Magic Mike é uma releitura pretensamente atualizada de filmes dos anos 30 e 40 que ofereciam reservas morais em períodos de crise, Soderbergh parece patinar em sua proposta, já que a única modernização de discurso é colocar musculosos seminus no palco.
Magic Mike
[Magic Mike, Steven Soderbergh, 2012]
Chico, eu aplaudo Soderbergh por fazer o filme que nenhum diretor cultuado como ele teria coragem de fazer. Achei o filme um refresco, ri em vários momentos, e confesso que acho Channing um picolé de chuchu mas ele está ótimo aqui.
Acho bem sem graça, Paty.