Se existe um gênero cinematográfico que emergiu com força nos anos 2010, foi o da distopia adolescente. Jogos Vorazes e Divergente viraram franquias e outras tentativas seguiram carreira solo, como O Doador de Memórias e A Hospedeira. Entre as principais características destes filmes, roteiros baseados em livros, protagonistas jovens e, claro, um futuro que os transforma em escravos, reféns ou excluídos. Esse revival do cinema distópico, que já produziu grandes filmes é escorado num apetite imenso por grandes bilheterias, onde a maioria decepciona, e numa certa segurança de que nada ali precisa ser muito levado a sério. O resultado geralmente é filmes medíocres porque supostamente ninguém espera que eles sejam muito bons mesmo ou que tenham o mínimo de coerência e eficácia.
Nessa comparação, Jogos Vorazes se saiu melhor, amparado no carisma de Jennifer Lawrence e numa produção com mais dinheiro e algum pé no chão. Em Chamas é um belo filme, mas os outros são apenas interessantes. No entanto, existe uma série que passa meio despercebida nesse universo superlotado de projetos, mas tem as histórias mais bem contadas, os capítulos melhor estruturados, o domínio mais sóbrio do drama e da ação. E Maze Runner: A Cura Mortal, que encerra a trilogia tardiamente por causa de um acidente com seu protagonista, é o melhor de seus filmes, com um resultado realmente tocante.
O primeiro ponto a favor é levar a sério a história que se está contando, embora se fale de futuro, vírus e zumbis, embora o foco seja o público adolescente. Segundo porque Wes Ball, cujos três trabalhos como diretor são os três filmes da saga, parece um cineasta atento aos detalhes e não muito deslumbrado por dirigir um blockbuster. Sem grandes malabarismos na direção e, sobretudo, sem fugir das regras do gênero (nem das intenções do estúdio), ele se dedica a criar cenas tecnicamente bem executadas e dramaticamente honestas, o que não é de se jogar fora num filme de ação. O ponto de partida, os livros de James Dashner, parecem ajudar porque os roteiros são bem mais consistentes que qualquer outro filme do gênero, tanta na construção da trama quanto no cuidado com os personagens.
Personagens por que Ball parece ter bastante carinho já que dedica boa parte de seu tempo para quase todos eles, dando espaço para que ele mesmo se despeça de cada um e permitindo um punhado de belas cenas, sendo a melhor delas, estrelada por Dylan O’Brien e Thomas Brodie-Sangster. Ball cuida bem do elenco e usa os clichês deste tipo de filme a seu favor. Embora não vá tanto além, não tenha subtextos mais profundos e seja um filme “com mensagem”, A Cura Mortal, assim como os outros Maze Runner mostra que a equipe por trás do projeto está interessada em fazer um trabalho decente, respeitando seus limites, com plena consciência de que se está fazendo cinema de gênero e que se está falando de maneira simples sobre temas básicos, como sobrevivência, família e amizade.
Maze Runner: A Cura Mortal
Maze Runner: The Death Cure, Wes Ball