DA POSSE DE UM CONTROLE REMOTO E OUTROS VÍCIOS
Geraldine Page, em Interiores
Meu Tio (58), de Jacques Tati.
Algo bem perto de um filme perfeito. Tati é o elo perdido entre Chaplin e Jerry Lewis com sotaque francês. Bem… caso a gente ouvisse o Monsieur Hulot… Sua paixão pela mistura de ensaio sobre o cotidiano com crítica à sociedade tecnológica rendeu um filme cujo esplendor visual é raro. A intenção de se tornar apaixonante é evidente, mas longe de ser um pecado, já que a trilha e o carisma tímido do protagonista e de seus coadjuvantes absurdos desviam nossos olhos e ouvidos de qualquer coisa.
Interiores (Interiors, Estados Unidos, 1978), de Woody Allen.
Há dez, doze anos, quando vi esse filme pela primeira vez, ainda no berço do meu interesse por cinema, confesso que pouco vi no mais Bergman dos Woody Allen, além de um filme chato. Hoje, revisitando este trabalho não me acanho em dizer que estava completamente errado. Interiores é, sem dúvida, um dos melhores filmes de Allen, um dos maiores filmes de sua década. É impressionante o domínio completo de Allen sobre o filme. Do silêncio claustrofóbico da ausência de trilha sonora até os desenhos de cada personagem, gente que envelheceu à beira das neuroses da megalópole. Diane Keaton, Mary Beth Hurt e a (soberba interpretação de) Geraldine Page são retratos de uma decadência pessoal, particularmente urbana. Não bastasse essa eficiência verbal, textual, Allen se cercou de uma equipe que criou uma das mais coesas concepções visuais (inclusive associadas ao que pretende o roteiro) vistas em muito tempo. A fotografia de Gordon Willis é escandalosamente linda e a pasteurização dos cenários e figurinos (o então futuro cineasta Joel Schumacher assina o vestuário) traduz personagens e situações. Talvez o melhor filme de Woody Allen. Bom para eu calar a boca.
Morte Ao Vivo (Tesis, 1996, Espanha), de Alejandro Amenábar.
O longa de estréia de Amenábar é um belo filme sem recursos. Com uma boa idéia na cabeça, o diretor foi econômico ao máximo para torná-la filme. Câmera esperta, montagem ágil, mas sem chiliques, e um talento especial para criar ambientes de suspense dão forma à história da universitária que descobre uma rede de snuff movies dentro de sua escola. Amenábar recorre tantas vezes ao velho recurso das reviravoltas que consegue revigorá-lo e provocar dúvida.