[mostra de cinema de são paulo – boletim cinco]
[time ]
direção: Kim Ki-Duk.
Shi Gan, 2006. Provavelmente Kim Ki-Duk pirou de vez ao achar que alguém poderia comprar essa miséria, o filme mais esdrúxulo em muito tempo. Ridículo mesmo. Sua historieta que poderia ser classificada como crítica à indústria da beleza (acredite, até Mulher-Gato é melhor) pode ter outra vibrante função social: ser exibida em faculdades de cinema como exemplo do horror que um cineasta pode praticar. A cena final, que deveria dar o toque de gênio ao rapaz, é a cereja nesta torta maldita.
Com Sung Hyun-Ah, Ha Jung-Woo, Park Ji-Yun.
[meus 15 anos ]
direção: Richard Glatzer e Wash Westmoreland.
Quinceañera, 2006. Eis a prova de que nenhuma estripulia de roteiro é necessária para se fazer um belo filme. Este aqui, não se engane pelo título nada atrativo, não tem nada de novo -pelo contrário, é bem convencional – mas tem um texto tão fechadinho e uma direção que nunca se rende ao óbvio (à exceção da cena do enterro) que conquista fácil o espectador com uma história sobre adequação às circunstâncias.
Com Emily Rios, Jesse Garcia, Chalo Gonzalez, Jesus Castanos, Araceli Guzman-Rico.
[o padre e a moça ]
direção: Joaquim Pedro de Andrade.
O Padre e a Moça, 1965. Por pouco não perdia essa pérola do Cinema Novo. Baseado no poema de Carlos Drummond de Andrade, o filme é arrebatador na maneira como o diretor traduz a poesia em imagens, trabalho hercúleo. A câmera está sempre à disposição do ângulo menos óbvio, de fazer o espectador perceber e ser perturbado por cada personagem. Todos, por sinal, ganham composições belíssimas. Helena Ignez está linda em sua perversão inocente e Paulo José, em sua estréia no cinema, acertadíssimo. Mas apaixonante é o homem perdido de Fauzi Arap, genial em cada aparição, em cada fala.
Com Helena Ignez, Paulo José, Mário Lago, Fauzi Arap, Rosa Sandrini.
[o ano em que mes pais saíram de férias ]
direção: Cao Hamburger.
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias, 2006. Cao Hamburger num universo que domina, o das crianças, mas com um olhar maduro e apaixonado sobre a infância. Michel Joelsas pode não ser um prodígio, mas tem a exata melancolia que sua pequena personagem exige. E o filme é um dos mais competentes (ou ainda, um dos poucos competentes) filmes brasileiros a retratar a ditadura militar. A direção de arte, impecável, uma das melhores do ano, e a relação que a história estabelece com a Copa de 1970, transporta o longa para um espaço histórico difícil de ser alcançado com eficiência e sem ranço. A maneira como Hamburger administra nostalgia e retrato de época é admirável.
Com Michel Joelsas, Germano Haiut, Daniela Piepszyk, Caio Blat, Paulo Autran, Simone Spoladore, Eduardo Moreira, Liliana Castro.
[sonhos de peixe ]
direção: Kirill Mikhanovsky.
Sonhos de Peixe, 2006. Durante boa parte do corpo do filme, me pareceu uma obra-prima, um filme admirável em sua simplicidade de texto e em sua elaboração de forma. A câmera é excelente e bebe muito do cinema europeu atual. No entanto, o roteiro enfraquece a história perto do final e o impacto se dilui um pouco. Mas o longa, completamente ímpar na filmografia nacional, é um achado. O diretor russo lança um olhar diferente, estrangeiro, mas extremamente carinhoso para a realidade dos pescadores potiguares. A idéia arriscada de trabalhar com atores amadores dá muito certo (em alguns momentos eles funcionam melhor do que muito ator profissional por aí) não apenas pelo carisma, mas pela desenvoltura ingênua do elenco.
Com José Maria Alves, Rúbia Rafaelle, Chico Diaz, Phelippe Haagensen, Yves Hofer, Demóclito da Silva.
[cobrador ]
direção: Paul Leduc.
Cobrador – In God We Trust, 2006. Nunca fui fã de Rubem Fonseca e acho que, se este filme for fiel ao conto que o inspira, o texto de Rubem Fonseca é uma porcaria. Nada, absolutamente nada funciona aqui. Para começar, é dificílimo comprar as personagens, sobretudo as de Lázaro Ramos e Peter Fonda, pessimamente dirigidos. Depois, é difícil aturar a suposta inteligência das viradas de roteiro, como a transformação da jornalista. Mas o pior de tudo são os detalhes, que mostram o quanto o filme tem de pretensioso e o quanto ele é incompetente em defender suas pretensões.
Com Lázaro Ramos, Antonella Costa, Peter Fonda, Milton Gonçalves, Zezé Motta, Jonas Bloch.
Concordo com o Milton. Vi recentemente o “Noites Brancas” do Visconti e, apesar de amar a novela do Dostoievski, o filme fica muito melhor quando se afasta do texto original.
Mas mesmo se o filme for literal ele ainda diz muito pouco sobre o texto de um livro.
Mateus, eu não achei nada engraçado.
Tiago, Milton, foi por isso que falei sobre o filme ser literal ou não.
Marfil, eu acho “O Céu de Suely” o melhor filme brasileiro do ano.
Curioso é a distribuição de “santinhos” de filmes nacionais na MOSTRA…Nunca vi nada parecido no evento. Acho que o patrocinio da Petrobras veio a calhar…Vou ver “O Ano em…” na proxima sexta, quando estrear em circuito. Deve ser o melhor filme nacional da MOSTRA ao lado de “Cheiro do Ralo”…
Chico, é a segunda vez que tu faz deduções sobre um texto a partir de um filme (o que simplesmente não dá). O Cobrador é um conto muito bom (e o livro em que ele está é genial, com contos ainda melhores).
O texto do Rubem Fonseca não é uma porcaria.
Chico, mas pelo menos deu para rir bastante no “Time”? Acho que a cena em que eu mais gargalhei no ano foi aquela “Inspirada” em Jogos Mortais, com a máscara. NEm Billy Wilder conseguiu fazer tanta comédia… Jesus
Sabe o que é pior? UM monte de gente vai gostar e ver significados profundos nesse filme…