[mostra de cinema de são paulo – boletim um]
[antes da revolução ]
direção: Bernardo Bertolucci.
Prima Della Rivoluzione, 1964. Se Amantes Constantes fazia oposição direta a Os Sonhadores, o filme de Philippe Garrel, mais do herdeiro, é homenagem a este longa de Bertolucci. Além da forma, há uma semelhança espetacular com motivações, anseios e desilusões das personagens, que, em ambos os casos, buscam a revolução, mas não sabem como se livrar de sua herança burguesa. Influenciado pela Nouvelle Vague, Bertolucci ainda quebra eixos, pratica uma montagem descontinuada e, assim como Garrel faria depois, opta pelo preto-e-branco, com apenas uma cena-concessão. Fica provado de vez que a citação a este filme no longa do francês é realmente uma homenagem.
Com Francesco Barilli, Adriana Asti, Allen Midgette, Morando Morandini Jr..
[a última noite ]
direção: Robert Altman.
A Prairie Home Companion, 2006. Um filme que tem uma curiosa relação com o tempo. Altman, em boa forma, prega peças durante o filme inteiro sobre a localização temporal de sua história, uma história simples sobre querer recuperar uma época, se agarrar nos fiapos de memória, o que às vezes resulta em momentos emocionantes de verdade. O quê mágico que a personagem de Virginia Madsen empresta à trama é estranho, mas consegue ser bem assimilado pelo filme. O longa revela ainda talentos-cantantes de primeira, como Woody Harrelson e John C. Reilly, Linsay Lohan e, mais do que todos, uma excepcional Meryl Streep, com direito a agudos e falsetes.
Com Woody Harrelson, Tommy Lee Jones, Garrison Keillor, Kevin Kline, Lindsay Lohan, John C. Reilly, Maya Rudolph, Meryl Streep, Lily Tomlin, Virginia Madsen.
[climates ]
direção: Nuri Bilge Ceylan.
Climates, 2006. Filme turco sobre os espaços vazios dentro de um relacionamento e sobre como o tempo afeta a vida a dois. O diretor tem um sensibilidade especial para filmar a solidão. A câmera estática pode nos mostrar supercloses ou quadros abertos, mas sempre nos apresentará uma personagem solitária, mesmo que acompanhada. Curioso que a estética crua também ganhe brincadeiras oníricas. Há soluções de montagem sensacionais como a da cena na praia. O final já é quase um clichê de filmes não-clichê, mas é muito bom.
Com Ebru Ceylan, Nuri Bilge Ceylan, Nazan Kesal, Mehmet Eryilmaz, Arif Asci.
[flandres ]
direção: Bruno Dumont.
Flandres, 2006. Se eu contar um segredo, vocês não contam pra ninguém? Eu acho esse Bruno Dumont uma farsa, uma daquelas armadilhas que o cinema europeu vez por outra nos apronta. Alguém que aparentemente tem muito sobre o mundo a dizer com seu pessimismo calculado, suas personagens perturbadas sempre pontas para surpreender o espectador. Aqui, as cenas de impacto parecem tão… sem impacto e tudo parece arquitetado para a exibição (e prêmios, claro) em festivais.
Com Adelaïde Leroux, Samuel Boidin, Henri Cretel, Jean-Marie Bruveart.
[como festejei o fim do mundo ]
direção: Catalin Mitulescu.
Cum Mi-am Petrecut Sfarsitul Lumii, 2006. Filme acadêmico, mas bem bonitinho com pano-de-fundo político-histórico bem desenhado. Curioso que, ao mesmo tempo, é sobre uma adolescente tentando se estabelecer e sobre a infância em épocas de ditadura. Provavelmente vai ser vendido como muito mais do que isso, mas é exatamente o que ele é. As personagens são bem construídas, mas meio padronizadas. É o indicado oficial da Romênia para o Oscar de melhor filme estrangeiro e tem muitas chances de ser finalista.
Com Doroteea Petre, Timotei Duma, Marius Stan, Marian Stoica.
[el laberinto del fauno ]
direção: Guillermo del Toro.
El Laberinto del Fauno, 2006. Confesso que gostaria de ter gostado mais, já que esperava uma pequena obra-prima à disposição do lúdico, tal qual A Dama na Água, mas, apesar da dedicação de Del Toro, um dos defensores da fábula no cinema atual, o filme não é pleno, embora eu não saiba muito bem explicar o porquê. Assim como no longa de Shyamalan, é admirável a capacidade do cineasta de fundir contexto histórico e conto de fadas. E é ainda mais admirável que este seja uma filme cruel, não um produto padrão para crianças (norte-americanas). Além de uma trilha linda, que fica na memória, o trabalho de direção de arte, maquiagem e efeitos visuais é impressionante. Indicado oficial do México para o Oscar de melhor filme estrangeiro.
Com Sergi López, Maribel Verdú, Ivana Baquero, Doug Jones, Alex Ângulo.
Foi, Diego.
Verdade, Marcelo.
Como eu tinha comentado anteriormente: a citação traz algo de provocação, mas também de homenagem. E é engraçada pra burro.
O John C. Reilly já havia cantado em “Chicago”.
Isso tudo só na sexta?