Reis e Rainha, de Arnaud Desplechin.
Último dia de Mostra pra mim; um filme maravilhoso. O que a estrutura do longa de Desplechin tem de complexa, tem de inteligente. O filme se costura a partir da desconstrução de si mesmo. Eu pessoalmente fiquei impressionado em como Desplechin é hábil nesta tarefa nada banal: estabelecer a partir da negação. O roteiro e a montagem são articuladíssimos com o desenvolvimento das personagens, interesse principal do filme. Emmanuelle Devos e Mathieu Almaric, os dois deslumbrantes, lideram um elenco onde todos – absolutamente todos – são interessantes, ricos, multifacetados. Há um punhado de cenas belíssimas e a coopção total do espectador. Abrir e fechar o filme com “Moon River” é um golpe genial.
Carreiras, de Domingos Oliveira.
Além da completa ignorância de como funciona uma redação de televisão e da visão preconceituosíssima do jornalista como figura desumana, vendida, corrupta e drogada, o filme sofre pela precariedade de texto e por praticamente (e acovardadamente, talvez) transformar Priscilla Rozenbaum numa versão Domingos Oliveira com dicção melhor, efusivazinha, verborragicazinha, inquietazinha. Para um filme que abre com um pedido de desculpas por existir que se transforma em “me aceitem do jeito que eu sou e me defendam” logo depois, era pedir demais qualquer coisa diferente.
Batalha no Céu, de Carlos Reygadas.
“É pau, é cu, é boceta”, já diria o Otto (que uns amigos meus perversinhos chamam de Idiotto), tadinho. Eu até gosto dele. Mas essa é bem a idéia do novo filme do aclamadinho Reygadas. A poesia é bruta e a mensagem vem em golpes de faca. Deixando de lado o exibicionismo do sexo explícito – ou alguém me convence que aquele boquete tinha sentimentos? (e aqui eu não faço nenhum tipo de alusão ou julgamento de The Brown Bunny, pelo único e exclusivo fato de não tê-lo visto, mas a) eu não gosto da estréia de Reygadas, Japón e b) eu gosto muito da estréia de Vincent Gallo, Buffalo 66) -, o filme ainda usa a grotesca tática de já deixar o espectador numa encruzilhada: reclamar do sexo entre pessoas muito gordas (e da câmera insistentemente fixa em seus corpos nus) vira preconceito crudelíssimo de pessoas regradas pelo belo clássico e fica complicado afirmar que o diretor é quem foi o crápula ao explorar essa “característica” sob a alcunha do cinema de autor. Há uma cena em 360º de movimento de câmera que é bem boa, mas de resto tudo parece algo entre o cinema de universitário querendo mostrar que sabe tudo da linguagem e a estética do choque pelo choque. A questão que seria a central do filme vira coadjuvante… sem luxo.
P.S.: agradecimentos mil ao Fábio e à Maíra, que me deram teto durante 15 dias, depois de meus planos a e b furarem repentinamente. Preciso deixar registrado aqui também meu encontro com o Michel Simões, no final da sessão de Eleição, que resultou num bate-papo divertido e numa carona, e o reencontro com o Daniel Libarino, com filme visto junto e tudo. Amanhã postos um Top 10 da Mostra e comento os resultados do júri e do público. O Mundo levou o prêmio da crítica. Merecidíssimo.
Hehehe… função de monitor, né? Cara, depois de tantos filmes e tantos rostos, realmente não lembro do seu, mas devo ter pego as cédulas para votar… hehehe… e só não voto quando perco o papel, o que acontece mais do que eu gostaria. Eu pretendo escrever um textão geral sobre a Mostra, mas não sei quando vou ter tempo. Mas adianto que gostei, sim, da seleção. Bem mais do que a do ano passado.
Eu era o monitor chato que sorria pra todo mundo com cara de besta e dizia “pra vc votar depois da sessão… bom filme pra vc” =)
Depois fala se achou a Mostra boa ou não? Eu achei meio fraca a seleção. Tirando a retrospectiva do Manoel de Oliveira, que nem deu para eu pegar. =(
Abs cinpéfilos.
Eu achei, Gabriel…
Pelo que eu vi, vai entrar na repescagem, Marcelo. Vale a pena enfrentar a fila.
Layo, vc estava trabalhando em quê exatamente no Bombril. Fui lá várias vezes.
A sessão de “O Mundo” que eu ia ver foi cancelada, o jeito é aguardar entrar em cartaz (como “Plataforma” entrou _embora eu não tenha arranjado tempo pra ver).
Oie… finalmente apareci aqui para comentar.
Eu tb achei “O Mundo” o melhor filme da mostra. Mas acabei não vendo tantos porque estava trampando no Cine Bombril. Se passou por lá, me viu então.
Por sinal, cadê seus comentários sobre “O Mundo” e “Espelho Mágico”?
Viu “Factotum”?
Espero ansioso sua listinha de 10+.
Abs!!!
Chico,”Carreiras” eh tao ruim assim?Adoro o trabalho do Domingos de Oliveira e estou curioso pra ver esse novo.Enfim,soh assistindo pra saber mesmo.
Ateh mais.