[Kûki Ningyô, Kore-Eda Hirokazu, 2010]
Depois de recuperar o fôlego com o anterior Seguindo em Frente, bela homenagem a Ozu, Hirokazu Kore-eda volta a fazer um filme mediano com essa fantasia sobre uma boneca inflável que ganha vida. O tom não se decide entre o realismo e a farsa, o que compromete bastante o equilíbrio do filme. O diretor aposta no estranhamento da situação para criar cenas de humor, mas consegue apenas sorrisos acanhados. Ele até consegue dar alguma densidade a sua reflexão sobre solidão e sobre como o isolamento nos afasta da humanidade, mas perde tanto tempo com a “adaptação” da protagonista a sua nova condição que o filme nunca se consuma devidamente.
[The Town, Ben Affleck, 2010]
O segundo filme de Ben Affleck como diretor mostra um cineasta disposto a acertar. Apesar de sua inexperiência na função, ele parece ter muitas ideias e ter encontrado bons parceiros para desenvolvê-las. Atração Perigosa é um bom filme policial, que faz referência e homenageia grandes títulos do gênero, fotografando Boston com muita habilidade. As cenas de ação são bem filmadas e, embora não fujam ao padrão, usa com bastante discernimento a câmera nervosa. Affleck, que também é o protagonista, parece mais maduro como ator, e se cercou de ótimos coadjuvantes. Jeremy Renner é o destaque mais imediato, mas Rebecca Hall, Jon Hamm e até Blake Lively estão sóbrios e fortes em cena. O filme nunca surpreende ou se mostra grande, mas acerta ao seguir a cartilha direitinho, incluindo nos clichês.
[Quchis Dgeebi, Levan Koguashvili, 2010]
Em seu primeiro longa-metragem, o diretor Levan Koguashvili utiliza muito de sua formação como jornalista. O filme, que acompanha homens viciados em drogas pelas ruas da capital da Geoórgia, adota um tom documental, quase romeno, para mostrar num mosaico de ações que nunca se consumam como os anos de domínio soviético e as guerras, em que o próprio diretor trabalhou como repórter, despedaçaram seu país. A visão de Koguashvili é desesperançosa: para ele, a geração que sucederá a atual tem tudo para errar mais uma vez.
[Hævnen, Susanne Bier, 2010]
Poucos diretores têm uma obra consistente construída por melodramas. A nomes como Alejandro Agresti e Nick Cassavetes, é possível juntar o de Susanne Bier. A dinamarquesa de Depois do Casamento aqui aposta no encontro de duas famílias para mostrar os efeitos devastadores da solidão. Os dois jovens protagonistas têm motivos diferentes para se sentirem isolados e é isso que os aproxima. Bier constrói essa relação muitas vezes abusando de constrastes e didatismos, mas consegue compor cenas fortes que transcedem o lugar comum. As sequências da África, no entanto, parecem dispensáveis. O perfil do personagem que viaja para o continente já está suficientemente claro em suas cenas fora de lá.
[Ya, Igor Voloshin, 2009]
O ucraniano Igor Voloshin assume corajosamente a alucinação como linguagem nesse seu segundo filme, sobre um jovem dramaturgo viciado em drogas que se interna num manicômio para fugir do serviço militar. O filme, que narra a história do personagem desde a infância passeia entre o real e o delírio com viradas agressivas, visual kitsch e metáforas velhas, como a imagem de Cristo na cruz, mas Voloshin parece é tão radical e fiel a sua proposta que o resultado parece no mínimo bem interessante. Afinal, em que outro filme você ouviria “(I’ll Never Be) Maria Magdalena” duas vezes?
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Pô, fiquei muito interessado em assistir este “Eu Sou”!
Filmes sobre viagens com drogas, pra mim os melhores são “Viagens Alucinantes”, “Pi” e, um pouco atrás, “Requiém para um Sonho”, os dois últimos do Aronofsky (não sei ao certo como escreve).
abs
Marcelo
Poxa, apenas duas estrelas para Air Doll?
Achei o filme sublime. Pra mim, as questões sobre morte e solidão, típicas da obra de Kore-Eda, foram tão bem trabalhadas neste filme que atingiram um efeito emocional e visual muito intenso.
Ah, ótimo blog. =)
Como pode ver tantos filmes!!!
Um dia chego lá.