Noites Brancas no Píer
[Nuits Blanches sur la Jetée, Paul Vecchiali, 2014]
Paul Vecchiali elege a palavra como centro de seu cinema em Noites Brancas no Píer. A releitura da novela de Dostoievski tem uma cenografia mínima e um cenário único, o que ressalta o poder do texto do mestre russo, que conta a história de um homem e uma mulher que se conhecem e passam a dividir segredos até que surge o amor. O diretor trabalha praticamente com dois atores (ele mesmo faz uma ponta no início e há um flashback em que o protagonista conversa com a mãe), reforçando que a encenação também está a serviço da palavra. Para o cineasta, quanto menos elementos adornarem os diálogos, mais eles se mostram fundamentais. Quando os personagens não estão num plano aberto, emoldurados “pelo mundo”, a iluminação é alternada para escolher aquele que está com a palavra. Vecchiali não se preocupa em “traduzir” o texto de Dostoievski. As interpretaçõessão anti-naturalistas, em especial a de Pascal Cervo. Embora ele acompanhe o ritmo do longa, os holofotes vão para Astrid Adverbe, que apresentou a sessão, excelente quase que todo o tempo e dona da cena mais bonita do filme, em que estrela um balé para a câmera. O filme pode parecer excessivamente teatral, mas revela um cineasta bem particular.
Filha ½
[Dukhtar, Afia Nathaniel, 2014]
Filha é o primeiro longa-metragem de Afia Nathaniel, que pode ser considerada uma heroína só de conseguir fazer um filme tão bem produzido num país com tradição zero em cinema. As boas notícias terminam por aí já que o longa de estreia da diretora se apóia única e exclusivamente no quão exótica a história que conta pode parecer para quem está fora do Paquistão. A cineasta parte de uma premissa bem intencionada, denunciar o costume dos casamentos arranjados com crianças para selar disputas, mas segue um modelinho batido de dramalhão televisivo que trabalha basicamente com a pena devemos sentir das personagens. Figurinos coloridos, paisagens bonitas e uma trilha sonora que “explica” ao espectador que reação ele deve ter são costurados a sonhos premonitórios e com algum grau de metafísica para vender melhor a trama. O galã bollywoodiano de chapinha não ajuda a dar mais credibilidade ao filme.
Heróis Improváveis
[Schweizer Helden, Peter Luisi, 2014]
O cinema suíço não tem um perfil público, como a produção de outros países do centro-leste europeu, o que abre espaço para comédias nonsense ou pequenos dramas de superação, caso deste Heróis Improváveis, bem influenciado pela narrativa das Sessões da Tarde hollywoodianas. O filme acompanha uma mulher madura que se sente solitária depois que foi abandonada pelo marido e após a filha sair de casa e descobre que pode ensinar teatro para um grupo de refugiados políticos que tentam conseguir abrigo na Suíça. A partir daí, o clássico modelo de um-personagem-aprende-com-o-outro é pilotado pelo diretor Peter Luisi, com algum carinho em compor os personagens. O destaque vai para a boa protagonista, Esther Gemsch, que empresta delicadeza a sua Sabine. Nada que o espectador guarde na memória por muito tempo.