Robert De Niro ganhou um Oscar interpretando um boxeador. Ronald Colman levou um Oscar vivendo um boxeador. Hillary Swank também conquistou um Oscar no papel de uma boxeadora. Não é de hoje que o boxe distribui prêmios no cinema. Will Smith e Sylvester Stallone não venceram, mas concorreram ao Oscar encarnando estrelas da pancadaria. O filme de Sly, por sinal, foi eleito o melhor do ano naquele distante 1977. Era Rocky, um Lutador. Muitos rounds depois, é a vez de Jake Gyllenhaal tentar a sorte nos ringues.
A ideia de Nocaute é beber na fonte dos grandes melodramas do esporte, histórias de volta por cima que funcionaram bem outras épocas, mas que talvez precisassem de mais profundidade dramática para fazer jus à tradição do gênero como conseguiu Clint Eastwood em Menina de Ouro, uma década atrás. Jake Gylenhaal se esforça. Sua personagem, a partir de um grande trauma, passa do anti-herói irresponsável para um homem comum silencioso. Sua performance delicada amplifica o poder do texto, valoriza cada momento do roteiro. O problema é justamente esse.
O roteiro de Kurt Sutter, da série Sons of Anarchy empaca nos lugares comuns de todo e qualquer filme de boxe, reprisando os mesmos conflitos, situações e personagens que nós já vimos dezenas de vezes: empresários inescrupulosos, treinadores que relutam em assumir os atletas problemáticos e choque de gerações. A direção de Antoine Fuqua, bem perto de genérica, não ajuda a mudar essa história, construindo uma identidade especial para o filme, que se arrasta ao longo de duas horas cansativas e pouco empolgantes.
Billy Hope, aliás, Jake Gyllenhaal praticamente tenta salvar o que resta, sozinho. Ou quase isso porque a ótima Oona Laurence brilha em quase todas as cenas em que aparece. O maior nocaute do filme acontece principalmente quando pai e filha se enfrentam no ringue da vida.
Nocaute ½
[Southpaw, Antoine Fuqua, 2015]