Noites Brancas no Píer

Paul Vecchiali elege a palavra como centro de seu cinema em Noites Brancas no Píer. A releitura da novela de Dostoievski tem uma cenografia mínima e um cenário único, o que ressalta o poder do texto do mestre russo. Livro e filme contam a história de um homem e uma mulher que se conhecem e passam a dividir segredos até que surge o amor. Uma história simples que ganhou uma tradução econômica em termos de produção, mas ambiciosa na maneira como foi confeccionada. O cineasta usa as limitações para dar força ao material. Trabalha apenas com dois atores (além disso, ele mesmo faz uma ponta no início e ainda há um flashback em que o protagonista conversa com a mãe). Parece reforçar que a encenação também está a serviço da palavra. Para o cineasta, quanto menos elementos adornarem os diálogos, mais eles se mostram essenciais para construir a relação entre os protagonistas. Quando os personagens não estão num plano aberto, emoldurados “pelo mundo”, a iluminação é alternada para escolher aquele que está “com a palavra”. Vecchiali não se preocupa em “traduzir” o texto de Dostoievski, o que pode desafiar um espectador que espera um filme mais palátavel. As interpretaçõessão são anti-naturalistas, em especial a de Pascal Cervo, mas, embora ele acompanhe o ritmo do longa, os holofotes se voltam para a presença magnética de Astrid Adverbe, que apresentou a sessão do longa na última Mostra de Cinema de São Paulo. Sua performance espetacular toma conta do filme e a atriz também é dona da cena mais bonita do longa, em que é a estrela de um balé para a câmera. Noites Brancas no Píer, que é o primeiro filme do diretor que chega ao circuito comercial brasileiro apesar de sua carreira já se estender por 50 anos, pode parecer excessivamente teatral, mas revela um cineasta singular, pouco interessado em tornar as coisas fáceis para quem assiste a seu cinema direto, pouco afeito a floreios.

Noites Brancas no Píer EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Nuits Blanches sur la Jetée, Paul Vecchiali, 2014]

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