[além das regras do jogo]

Eu bem que sabia que aquele japonês era alguém famoso. Só confirmei minhas suspeitas agora, quando fui conferir os créditos. A presença do Takashi Miike é apenas uma cereja na bela torta que O Albergue revela ser. Para começar, não se trata de um filme “de tortura”. O sadismo da segunda parte do filme de Eli Roth tem dupla função: suprir as necessidades psicopáticas de espectadores que adoram uma podreira e servir para um dos principais objetivos do diretor, a quebra das expectativas.

Roth segue caminhos bem interessantes para nos dar sua fábula macabra, sempre tratando de travesti-la como pode. Nessa engenhosa tarefa, até nosso verdadeiro protagonista só é revelado tardiamente. O cineasta não apenas cria uma distração para apresentar a história. Até chegar ao cenário final, Roth já havia construído um outro filme. A subversão dos maníacos da segunda parte do longa é tão impactante quanto á subversão das regras do cinema de terror pelo próprio diretor. Foi espantoso ver que, quando não se imaginava que ele pudesse riscar mais uma vez a cartilha, Roth parte para a decomposição de seu eleito herói, num epílogo onde a vingança não tem auto-defesa moralista. Trata-se de vingança mesmo.

[o albergue ]
direção e roteiro: Eli Roth. elenco: Jay Hernandez, Derek Richardson, Eythor Gudjonsson, Barbara Nadeljakova, Jana Kaderabkova, Jennifer Lim, Lubomir Bukovy, Jana Havlickova, Takashi Miike, Paula Wild, Vladimir Silhavecky, Vanessa Jungova, Katerina Vomelova, Jan Vlasák, Rick Hoffman. fotografia: Milan Chadima. montagem: George Folsey Jr. música: Nathan Barr. desenho de produção e figurinos: Franco-Giacomo Carbone. produção: Chris Briggs, Mike Fleiss e Eli Roth. site oficial:
o albergue. duração: 95 min. hostel, estados unidos, 2005.

nas picapes: [billie jean, michael jackson]

Comentários

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15 comentários sobre “[o albergue]”

  1. Tiago, juro que achei que vc tinha exagerado no seu texto, mas vejo que não. O filme se auto-ironiza com muito humor. Mas acho que se o destino da japinha tivesse sido outro, aí sim teríamos uma revolução.

  2. Eu acho que “O Albergue” está além dessa classificação, Wallace. Acho que isso serve para lixos como: “Jogos Mortais” ou “O Massacre da Serra Elétrica”. Os dois, medíocres.

  3. Eu já acho O Albergue uma palhaçada despropositada que quer chocar e ganhar dinheiro em cima dos instintos mais baixos do ser humano. Mas gostei do seu texto, como sempre. Também escrevi sobre o filme lá no blog, junto com V de Vingança. Passem por lá.

  4. Eu vi em DivX, na casa de um amigo. Já saiu de cartaz aqui.

    Monica, eu não sou a favor de se escolher povos e se atacar. Isso quem faz é o Bush. Mas eu acho que o filme passa ao largo destra discussão. O filme é mais sobre o processo do que ferramenta política.

  5. Só vocês mesmos para reativar minha curiosidade pelo filme, ainda que esteja mais com o Marcelo: acho que vai ficar pra DVD mesmo…
    O preconceiro ainda resiste.

    Abração,
    Márcio

  6. Olha, concordo com isso tudo. Mas não consigo não ser moralista. Não com o personagem “herói” (que nem enxergo assim). Ele fez o que era humano fazer. Mas com o argumento e com a inquietação que o filme provoca. Sou moralista com o contradiscurso que tá ali. Não me agrada a intolerância. Ainda que seja contra povos intolerantes, exploradores, imperialistas, o escambau.
    Enfim, terminei o filme lamentando.
    Enquanto objeto fílmico. Uma armadilha surpreendente. Enquanto discurso, lamentável.

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