Um desfile de porquês

Caro maestro Leonard Bernstein,

acabei de sair do cinema e estou particularmente confuso. Gostaria de entender qual é a relevância de se contar a história de O Assassinato de Richard Nixon. Gostaria muito. Não se foi a inexperiência do diretor estreante Niels Mueller ou a incompetência do roteiro, mas aquele que seria, a meu ver, o principal motivo para a realização do filme simplesmente não é levado em conta. Por que o protagonista fez tudo aquilo? O longa me afirma que a única razão é a perturbação da personagem.

Então, caro maestro, me surge a dúvida: dar voz a uma pessoa perturbada, contar a história dela, que não realizou um grande feito, não participou de um evento significativo, não tem verdadeiro valor histórico, não seria dar uma voz ao inexplicável? Não seria meio irresponsável? E, mais além, teria que mérito, que valor? Afinal, sobre o que é O Assassinato de Richard Nixon já que ele nem tenta humanizar a personagem?

Na minha opinião, caro senhor Bernstein, esta é a pior interpretação do Sean Penn. A versão careteira, cheio de tiques, deste um grande ator, menospreza a visão do protagonista. Ele é reduzido a apenas um homem com problemas mentais. E a direção de Mueller não o trata de maneira especial, não existe qualquer carinho com a personagem, nem nenhuma preocupação com identificação. Eu acho, inclusive, maestro, que um pouco de clichê na caracterização, de lugar comum na composição das cenas, seria altamente benéfico para este filme apático.

A sensação que fica é de querer se livrar logo. Da história, do protagonista, do problema. O filme termina e muitas dúvidas ficam no ar: o que queria a personagem? Por que tratá-lo tão sem paixão? O que queria o diretor? Por que fazer este filme? E a maior de todas elas, caro maestro Leonard Bernstein, por que, caramba, usar o senhor como fio condutor da história se não há a mínima justificativa para isso? Provavelmente vou ficar sem respostas.

um abraço,
cordialmente,
Chico.

O Assassinato de Richard Nixon
The Assassination of Richard Nixon, Estados Unidos/México, 2004.
Direção: Niels Mueller.
Roteiro: Kevin Kennedy e Niels Mueller.
Elenco: Sean Penn, Naomi Watts, Don Cheadle, Jack Thompson, Brad William Henke, Nick Searcy, Michael Wincott, Mykelti Williamson, April Grace, Jared Dorrance, Jenna Milton, Mariah Massa, Derek Greene, Joe Marinelli, Lily Knight.
Fotografia: Emmanuel Lubezki. Montagem: Jay Lash Cassidy. Direção de Arte: Lester Cohen. Figurinos: Aggie Guerard Rodgers. Música: Steven M. Stern. Produção: Alfonso Cuarón e Jorge Vergara. Site Oficial: O Assassinato de Richard Nixon.Duração: 95 min.

rodapé: notas de zero a dez para todos os filmes lançados comercialmente neste ano aqui.

nas picapes: Take Me Out, Franz Ferdinand.

Comentários

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6 comentários sobre “O Assassinato de Richard Nixon”

  1. Take me Out no Circo Voador só não foi uma catarse maior do que Dark of the Matinee (impossível ouvir a voz do Kapranos nesse momento, todo mundo resolveu gritar a música do começo ao fim) e This Fire (*insira aqui algum comentário usando as palavras incêndio e/ou fogo*).

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