Os olhos do protagonista de O Batedor de Carteiras (59) são perfeitos: olhos mortos, sem expressão, vagando pelas ruas de Paris. A história do batedor de carteiras que não se consegue livrar de uma atração irresistível pelo ilícito, inspirada no Crime e Castigo de Dostoiévski, talvez seja a obra mais redonda de Robert Bresson. Todos os elementos da cinematografia do diretor estão aqui (discussão moral, análise do individual, negação da interpretação, cenografia limpa), mas o que torna encantador este longa-metragem é como Bresson parece se apaixonar por seu anti-herói e nos faz embarcar no seu mundo fascinante. As seqüências de roubo das carteiras, muitas e variadas, são impressionantes e delirantes. Em O Batedor de Carteiras, o cineasta não deixa de elocubrar, mas o faz com graça e cadência.
O Batedor de Carteiras
[Pickpocket, Robert Bresson, 1959]