Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Anne Hathaway, Michelle Williams

A trilha sonora de O Segredo de Brokeback Mountain é um metáfora perfeita do filme. A melodia criada por Gustavo Santaolalla é interrompida sempre que alcança seus momentos mais bonitos. Os cortes são abruptos, secos, como se fosse proibido continuar a fruir a música. O acerto na música é apenas um pequeno ponto a se destacar quando a intenção é descrever o feito de Ang Lee com a história de amor entre os dois caubóis. Porque ele não é um filme sobre a história de amor sobre dois caubóis. É a história de um amor proibido, condenado ao segredo, ao microverso, à miniatura. Amor de verdade, tenha a forma que for, demanda exposição. Retratar um relacionamento escondido por vinte anos poderia facilmente cair no banal, no desfile de exibições de preconceito.

Ang Lee foi para outro lado. O preconceito do mundo aparece menor do que o próprio preconceito interior. O Segredo de Brokeback Mountain parece ser mais uma luta íntima contra as próprias limitações (e driblar limitações interiores não é nada fácil) do que uma batalha contra fronteiras impostas pelos outros. Nesse sentido, é muito inteligente a contraposição das personagens, que mesmo diferentes (e é essa diferença que justifica todo o filme) não se encaixam nas figuras estereotipadas tão caras a histórias afins.

O roteiro, que poderia facilmente nos deixar mais simpáticos a Jack Twist, o mais bem resolvido da dupla em relação a seus sentimentos e desejos, equilibra com propriedade a defesa das duas personagens. O embate final, no último encontro do dois, é exemplar neste sentido, onde os imensos sacrifícios de cada um são expostos e onde, mais que conformismo, surge entendimento. Se o mérito de Ang Lee e do roteiro na arquitetura desta história é completo, há de se bater palmas para Heath Ledger e Jake Gyllenhaal, ambos bem em cena (com óbvio destaque para Heath, que tem a personagem mais difícil). Aceitar os papéis foi algo extremamente corajoso para uma dupla com uma carreira de imenso apelo jovem.

O filme não é exatamente o que se poderia chamar de filme engajado. Ele não está lá para defender nada, se exime de qualquer julgamento de valor. Ang Lee está um passo – ou dois – além dessa discussão tola, velha. O que ele quer é mostrar uma história de amor. O Segredo de Brokeback Mountain é um filme triste, mas que não se estrutura sobre a melancolia. É um filme que não abre espaço para a afetação, mas para o melodrama. O corte é seco, o texto é duro, a fotografia é elegante, enxuta, clássica. Tudo o que um filme macho pede.

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[Brokeback Mountain, Ang Lee, 2005]

Comentários

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18 comentários sobre “O Segredo de Brokeback Mountain”

  1. É bem bonito. O casaco no armário é hipersentimentalóide, mas como eu sou desses que amam os melodramas…

    “Before Sunset” é bem bom mesmo, infinitamente superior ao primeiro (apesar de as personagens continuarem bem chatinhas). Asw canções da Delpy são bonitas, e terminar com Nina Simone foi golpe baixíssimo, impossível não ganhar daquele jeito.

  2. Concordo com o Aílton. Foi o melhor texto que li sobre o filme. E dele já saem várias das minhas escolhas para o Alfred 2007! 😀
    1 beijo pra vc.

  3. Já não era sem tempo, Marcelo.

    Vi, sim, Íris, tem link pro texto sobre ele lá embaixo.

    Pois é, Marcos, que venham mais e até melhores filmes neste ano.

  4. Isso mesmo, Chico… Um filme mais do que honesto, é, principalmente, um filme sem apelo ou apologia. Na verdade, quando esperava mais uma polêmica, Ang Lee empenhou-se em constriur uma história simples, uma história como outra qualquer – de carne-e-osso, gente. Lindo a forma como ele contrapõe o acolhimento da natureza, a Montanha (quando muitos dizem que que não é uma relação nada natural), com o preconceito da instituição social, a Família (sem cair nos exageros melodramáticos que poderiam vir por aí). O ano começou bem para o cinema que estréia no Brasil! Spielberg e Lee – Salve o cinema!

    Marcos Aurélio Felipe
    http://focopotiguar.zip.net/

  5. Um bom filme. Lembrei de Delicada relação ( outro contexto, menos sutileza, ficou meio bobo perto do Segredo), vc viu?

    abraços
    Iris

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