Richard Jenkins

Richard Jenkins

Thomas McCarthy

Lição de casa

Os dois filmes mais indies do ano na lista de Oscar, Rio Congelado e O Visitante, têm além de indicações nas categorias principais de interpretação, outro ponto em comum: a imigração ilegal para os Estados Unidos, embora não seja o tema central de nenhum dos dois, amarra as duas tramas – e em ambos os casos isso é feito com uma delicadeza cada vez mais rara no cinema independente norte-americano. Se o primeiro filme se estrutura sobre um roteiro mais original e menos óbvio, Aprendendo a Viver, a lamentável tradução brasileira para The Visitor, aposta não no que mostra, mas em como mostra.

Thomas McCarthy é um diretor delicado. Seu filme de estréia, O Agente da Estação tem um protagonista anão, mas sabe extrair do inusitado uma leveza esquisita, mesmo que o roteiro guarde algumas armadilhas fofinhas. Este segundo trabalho é ainda mais redondo. Richard Jenkins, em momento especial, interpreta um professor condenado a uma vida de mediocridade até se deparar com um casal que ocupa seu apartamento. McCarthy toma para si uma situação clichê, o estranho que chega para transformar, e, mesmo seguindo a lógica de seu ponto de partida, conduz a descoberta do protagonista da forma mais improvável e singela que pode, tanto na criação da cenas (o batuque na cadeia) até a aproximação dos personagens.

O filme nunca deixa de ser cruel, sobretudo quando entra na seara dos imigrantes ilegais, mas a forma adotada por McCarthy nunca é melancólica ou denuncista. Ele utiliza a situação para revelar as insatisfações do protagonista, que vê no mundo novo que passa a conhecer não deslumbramento ou possibilidade de salvação, mas a certeza de que existe algo mais. Jenkins está inspiradíssimo no papel central, dono de uma elegância tímida que valoriza cada frase do roteiro. As relações que seu personagem estabelece, seja com o de Haaz Sleiman, seja com o de Hiam Abbas (Lemon Tree), são carinhosas, suaves e nada óbvias.

O Visitante EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
The Visitor, Tom McCarthy, 2008

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