Domingo é dia de Oscar e eu estou atrasadíssimo nos meus comentários e previsões. Culpa da quantidade de trabalho que veio ao meu encontro nos últimos dois meses. Mas, enfim, antes do buzz, vamos aos filmes que eu já vi e o que eu acho deles.
À Procura da Felicidade , de Gabriele Muccino
Um belo melodrama, com mão equilibrada de Muccino e um bom momento de Will Smith. Mas não passa disso.
Apocalypto , de Mel Gibson
Mel Gibson cada vez mais grandioso, usando seu dinheiro e sua capacidade de tornar tudo épico para fazer uma ode ao instinto, ao bruto e à família como instituição sagrada. Se fosse outro, até passava…
Babel , de Alejandro Gonzalez Iñarritu
Ainda estou na dúvida sobre qual é pior. Este ou Crash, de Paul Haggis, que pelo menos era assumidamente maniqueísta e tinha moral torta. Este aqui me parece ser amoral e não querer dizer nada e mesmo assim tentar ser grande.
Borat ½, de Larry Charles
O sarcasmo quase sempre funciona, mas não raramente o filme reproduz boa parte das coisas que quer denunciar. Idiotizar para dar sua visão me parece excessivo demais.
Carros , de John Lasseter, co-dir. Joe Ranft
A animação é de primeira, lindona mesmo, mas o filme perderia feio numa corrida.
A Conquista da Honra , de Clint Eastwood
Juro que ainda escrevo sobre ele, mas é um filme muito bom que não consegue emocionar, o que me parece ser um demérito. O trio de protagonistas funciona embora todos sejam canastrões, mas não há histórias ou personagens apaixonantes. No entanto, é fantástico ver mr. Eastwood demolir a América.
Dália Negra , de Brian De Palma
O final apressado demais tira os pontos de que o filme precisava para ser uma obra-prima, mas ainda assim é muito bom. Dirigido com elegância e competência.
O Diabo Veste Prada , de David Frankel
Muito melhor do que eu poderia esperar, terminei me identificando com os dramas da protagonista. Anne Hathaway, por sinal, está adorável. Meryl Streep e Emily Blunt, perfeitas.
Diamante de Sangue , de Edward Zwick
Deveria ser o melhor filme de Zwick se ele não tivesse arrumado aquele final na montanha. Ali, o Bogart de Di Caprio se esvai pela pia e o estandarte “vamos denunciar a exploração na África” vira reportagem de TV.
Filhos da Esperança , de Alfonso Cuarón
Promete mais do que cumpre. O futuro é muito próximo. Tanto que a gente mal percebe que está no futuro. Falta um certo timing e um texto mais Philip K. Dick. Clive Owen está ótimo.
O Grande Truque , de Christopher Nolan
Nolan mostra aqui que, na verdade, é bem mais ou menos e que precisa mesmo fazer um filme de trás pra frente ou adotar um mito das HQs para chamar atenção. O roteiro é fraco, os atores estão ruins e o que se salva é o visual.
Half Nelson , de Ryan Fleck
Um dos melhores filmes com alguma indicação. Subverte os “filmes de professor” com um momento iluminado de Ryan Gosling e um roteiro que não poupa ninguém, mas nunca é gratuito.
Happy Feet, o Pingüim , de George Miller
Um lindo conto sobre como uma população pode se vender por tão pouco. Tenta manter a esperança, mas é mais cruel do que outra coisa. O pingüinzinho ainda bebê dançando é um dos momentos mais deliciosos do cinema no ano passado.
Os Infiltrados , de Martin Scorsese
Um grande filme coerente com o cinema que Scorsese vem praticando nos últimos anos e que virou alvo. Fecha uma “trilogia americana” com uma lógica de cinema de ação oriental que me parece completamente integrada a seus novos propósitos. Nicholson fenomemal e Di Caprio num grande momento.
O Labirinto do Fauno ½, de Guillermo del Toro
Um conto de fadas adulto e um filme político com espírito fabuloso. Uma mistura que só Del Toro poderia fazer de forma tão coerente e cujo acabento é de fazer inveja a Hollywood.
Pecados Íntimos ½, de Todd Field
A voz em off é o melhor do filme que oscila entre o retrato suburbano incômodo e um final moralista inapropriado. Patrick Wilson está bem além de qualquer um do elenco.
Pequena Miss Sunshine , de Valerie Faris & Jonathan Dayton
Uma decepção imensa porque é muito fake. Os atores até se esforçam, mas ninguém se destaca porque o texto é fraquíssimo, apesar de ter uma vontade danada de ter sido escrito por Wes Anderson.
Piratas do Caribe: o Baú da Morte , de Gore Verbinski
Não fosse a competência na composição visual, seria apenas um filme muito ruim.
Poseidon , de Wolfgang Petersen
O pior é que não é ruim, mas bom também não é. Petersen é melhor diretor do que seu antecessor, mas faz falta um grande elenco como o original tinha.
A Rainha , de Stephen Frears
Um belo filme de bastidores, bastante elegante e refinado, mas não passa disso. O tom é frio porque, afinal, é a família real britânica ou porque Frears não sabe emocionar. Diante disso, apenas Helen Mirren, maravilhosa, se destaca.
Superman, o Retorno , de Bryan Singer
Um grande filme, injustamente atacado. Geralmente se cobra que o Superman seja o Batman ou o Wolverine, mas ele é o Superman, o maior de todos. Singer sabe respeitar a obra de Richard Donner e o herói das HQs e ainda introduz bons elementos à série. A cena em que ele observa a casa de Lois é a melhor.
O Último Rei da Escócia , de Kevin Macdonald
Para minha surpresa, um filme correto que vai desabando na memória. Forest Whitaker, que é coadjuvante, está muito bem, mas James McAvoy, que não faz aquele sotaque afro me parece tão bom quanto.
Volver , de Pedro Almodóvar
Almodóvar tentando se recuperar de Má Educação, mas ainda morno. Penelope Cruz a la Sofia Loren é um ímã para um elenco afinado. No entanto, Carmen Maura tem cenas bobas demais para desenvolver sua personagem.
Vôo United 93 , de Paul Greengrass
Greengrass faz muito bem aquele filme de tensão minuto-a-minuto, tocando num tema delicado. A questão é só que o filme tem um tom tão documental que às vezes parece ser um programa de TV.
Teria que passar muito tempo aqui para poder ver tudo que você pensa sobre cinema.
Tenho um favor a pedir (Já? Mas não é esmola.) Vivo na Grande Los Angeles. Muitos dos nomes dos filmes mencionados não são tradução literal dos títulos originais. Fico a ver navios sem ajuda do Ao Mirante Nélson. Seria possível dar o título original em parênteses quando você for escrever doravante, por favor?