Steven Spielberg é um sábio. Sou fã do homem. Antes de entregar o Oscar de melhor filme, o cineasta mais famoso do mundo disse que quem ganhasse se juntaria a filmes como O Poderoso Chefão e que quem perdesse estaria ao lado de Touro Indomável. Steven, um homem que tem noção boa de perenidade, provavelmente já previa a vitória de O Discurso do Rei, um filme do qual o mundo se esquecerá em alguns meses, sobre A Rede Social, um filme que representa uma época.

Com a vitória do filme inglês, a Academia perdeu a oportunidade de parecer uma entidade extraterrena, coisa qua havia conseguido nos últimos anos, celebrando filmes que, bem ou mal, estavam de acordo o momento. Não que um filme de época seja necessariamente alienado, mas o recorte biográfico da vida George VI, um rei esquecido pelo tempo, metaboliza uma história de superação forjando a importância de seu protagonista na Segunda Guerra Mundial com uma série de armadilhas de roteiro escondidas por um acabamento técnico apenas correto.

A meu ver, O Discurso do Rei se junta mesmo a títulos como Carruagens de Fogo e Conduzindo Miss Daisy, filmes quadradinhos, totalmente trabalhados no emocional e cheios de fórmulas. Pelo menos, nos dois casos, os diretores, que não fizeram mais do que apertarem os botões, não foram igualmente agraciados. O do primeiro sequer foi indicado. Se o mundo fosse justo, este seria o destino de Tom Hooper. Mas o mundo não é. E David Fincher, que fez um trabalho muito superior, se viu derrotado pelo mais fraco de seus concorrentes. Não precisava.

O prêmio para Colin Firth seria menos óbvio se seu principal adversário não tivesse ganho no ano anterior. Jeff Bridges havia vencido por uma interpretação menos complexa, derrotando por sinal o próprio Firth, que ainda ganhou os pontos da compensação, que ajudou a pesar a balança pro seu lado. Essa regra não funcionou para a veterana Annette Bening que poderia ser a zebra entre as melhores atrizes, mas cujo trânsito entre a categoria e sua própria história, inclusive no Oscar, não foram suficientes para barrar a sempre mediana Natalie Portman, em sua interpretação mais esforçada.

Christian Bale, melhor performance indicada este ano (contando todas as categorias de atuação), ganhou merecidamente o prêmio de coadjuvante, diminuindo o número de troféus do filme inglês. Melissa Leo driblou sua campanha de auto-difamação que repercutiu mal na imprensa e duas boas apostas, Hailee Steinfeld e Helena Bonham-Carter, mas a grande atriz fora das telas vendeu a imagem de uma Suzana Vieira norte-americana, arrogante, histriônica, barraqueira e deselegante. Pena que Kirk Douglas, genial em sua apresentação do prêmio que ela ganharia, teve que ver aquilo de perto.

A cerimônia desta noite foi bem interessante, embora muitos prêmios tenham sido ruins. Mas dois nomes garantiram nossa festa. O primeiro foi Trent Reznor, do Nine Inch Nails, que ao lado de Atticus Ross assinou a trilha sonora de A Rede Social, que derrotou o conformismo. Foi um dos grandes momentos da noite. O outro nome foi o de Anne Hathaway, a apresentadora, deliciosamente simpática e brincalhona. Seu par, James Franco, estava bem, mas ela dominou a cerimônia, mais curta do que no ano passado.

Numa lista de filmes ruins, Em Um Mundo Melhor, que não é ótimo, mas não envergonha a diretora foi justamente homenageado. Foi a mesma lógica do quesito de canção. Só havia uma boa música. Justamente “We Belong Together”, de Toy Story 3, a que ganhou. O prêmio para a fotografia de A Origem pode não ser o mais justo, mas indica que a Academia pode estar ampliando seus critério desta categoria. Mesmo assim, é imperdoável que Bravura Indômita tenha saído sem prêmios da festa, mesmo diante de suas dez indicações. Interessante foi ver O Discurso do Rei falhar justamente em sua seara, direção de arte e figurinos.

Para compensar, a Academia produziu um clipe risível em que um voice over do filme que seria o vencedor atravessa os dez indicados a melhor filme. Acaso, descuido ou uma edição didática como a do filme de Tom Hooper. É, Steven Spielberg estava certo em seu discurso conciliador. Assim como Rick Baker, mestre numa arte prestes a terminar, a maquiagem, que levou seu sétimo Oscar, a Academia precisa ter cuidado para não se juntar a ele. Não como vencedor, mas no quesito “obsoleto”.

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17 comentários sobre “Oscar 2011: passado ou bem passado?”

  1. O Oscar já passou faz tempo, mas mesMo assim vou comentar.
    A vitória de um filme acadêmico como “O Discurso do Rei” sobre uma filme mais urgente como “A Rede Social” me pareceu um repeteco de alguma premiação do Oscar perdida entre os anos 60 e 80, quando aconteceu muitos desse casos.
    Ainda assim, não me pareceu absurda a premiação do filme inglês.
    “A Rede Social” é ótimo, talvez um clássico moderno, etc., mas é bom lembrar que 90% da crítica brasileira tinha preferência por “Toy Story 3”, portanto, aquele não era lá uma unanimidade. Outros preferiam “Cisne Negro” e outros tantos “A Origem”, todos bons, ou muito bons filmes, que, na minha opinião,entrarão para os compêndios futuros de cinema.
    É bom não confundir as coisas: “A Rede Social” trata de um tema de evidente relevãncia para o mundo moderno, mas não é uma obra-prima, para se queixar tanto de sua não premiação no Oscar. É provável que seja melhor que “O Discurso do Rei”, que este deveria ser o ano de David Fincher, mas nada que justifique a histeria das redes sociais, cujos usuários, geralmente,não sabem diferenciar o filme de Fincher de um filme da saga “Crepúsculo”.
    Torci para a “Rede Social” e para Fincher saírem com os Oscars, mas também torci para “A Origem” (que daí sim seria surpreendente e inusitado) e para “Cisne Negro”.
    “O Discurso do Rei” tem duas atuações excelentes, de dois grandes atores, tem bom roteiro e o fato de tratar de um rei desconhecido deve ser visto como mérito, e não uma desqualificação.
    De resto, só espero que o Oscar não estrague a carreira da Natalie Portman, pois ela é ótima e muito promissora.

  2. Concordo que A Rede Social tem mais chances de ser lembrada futuramente do que O Discurso do Rei. Ano passado, embora a Academia tenha ousado ao consagrar Guerra Ao Terror, Avatar é quem tem futuro garantido na memória de muita gente.

    Dificilmente o Oscar dá seu(s) prêmio(s) máximo(s) ao filme mais ‘meme’ do ano. Cisne Negro e A Origem já renderam muito assunto, Toy Story 3 idem – ou seja, ter O Discurso do Rei como Melhor Filme mostra apenas que a premiação “pensa na arte”, ainda que isso incorra em injustiças mercadológicas (e às vezes, ironicamente, até artísticas mesmo).

  3. Desculpe, meu endereço eletrônico é outro agora: http://cadernonovo.blogspot.com/. Bem, acabei vendo A Rede Social ontem e, se não me decepcionou, também não me agradou tanto assim (metade do filme parece um livro de John Grisham, sobre audiências em tribunais; é um filme muito falado – o discurso dos nerds? – bem do esquemão hollywoodiano, sim). Não sei, pois não vi ainda, mas acho que vou gostar mais de O Discurso do Rei (deve ter o tal verniz cultural de que falei e mais alguma coisa). A ver.

  4. vou repitir o que disse com outra palavras a alguns posts atras o oscar é legal pra fazr bolao torcer, mas é só um premio, onde o melhor e o marketing. nao se deve levar totalmente em conta a sua premiaçao.
    olha de 2001 pra ca quem ganou o oscar boa parte nao e melhor filme nem na tiberia

  5. Impressão minha ou esse post está duplicado? Eu não acho que O Poderoso Chefão é um filme que as pessoas se esqueceram em meses!

  6. Chico, passado o oscar, nada mais justo que você fazer uma listinha com os ganhadores dos seus sonhos. Teve uma lista de indicados, agora falta a lista de ganhadores. Um abraço.

    PS: Sinceramente, se fosse para dar o oscar de melhor direção para Tom Hooper, melhor seria premiar novamente os irmãos Coens. É uma pena que Claire Danis, não concorreu. A tua interpretação está soberba em TEMPLE GRANDIN. Embora tenha sido filme para TV. E mais sincero ainda, preferia a Melissa em RIO CONGELADO. Por que não Jackie Weaver? E, nossa, BLUE VALENTINE. Faz um tempo que não me emocionei tanto. ADOREI. E não só A REDE SOCIAL, se juntará AS VINHAS DA IRA. Mas estou quase achando que David, também se juntará a nomes como Hitchcock e Kubrick. Que venha o próximo ano e uma nova esperança de mudanças.

  7. Para mim os premios de filme e direção foram ridiculos e faz com que cada vez mais o oscar seja zombado!Nas categorias restantes não tenho muito a reclamar (bravura merecia dois premios vai)queria tanto ouvir que: oscar de direção vai para David fincher ou mesmo aronosfski.O oscar de filme vai para O Vencedor ou A Rede Social.Só no sonho mesmo viu.

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