Os resultados podem não ter sido aqueles que todos queriam, mas uma coisa é certa: fazia tempo que acompanhar a festa do Oscar não era tão divertido. Existiam duelos nas 4 categorias principais e, por isso, a expectativa estava em alta e as torcidas, acirradas. A vitória de O Artista como melhor filme já parecia anunciada há algum tempo. O filme levou os prêmios dos sindicatos de produtores e diretores, ganhou o BAFTA e o Critics Choice e mais uma pá de láureas. Mas, no último momento, A Invenção de Hugo Cabret, que não tinha tido grandes vitórias na temporada, mas era o filme com o maior número de indicações, cresceu violentamente.
Como a festa começou com a entrega de prêmios técnicos, e Hugo ganhou alguns deles, inclusive quando nem era favorito, o cenário que parecia se desenhar era de uma inversão nos prognósticos. Até metade da cerimônia, O Artista só tinha ganho na categoria de figurinos, e o longa assinado por Martin Scorsese já tinha 4 prêmios. Ainda ganhou mais um, mas estancou nos quesitos técnicos. O filme francês venceu em trilha sonora e, na reta final, emplacou três dos Oscars principais, inclusive melhor diretor e melhor filme. Mas este texto nem é sobre duelos porque, na noite deste domingo, o verdadeiro vencedor foi outro.
Os dois principais candidatos da noite são duas belas homenagens ao cinema. Mais especificamente ao princípio do cinema, à arte de fazer filmes. E, mesmo que se tenha um favorito, contabilizar 10 dos 20 prêmios destinados a longas de ficção para filmes que têm essa proposta é bastante salutar. São, antes de qualquer coisa, prêmios de amor à profissão. O Artista é um filme francês, rodado em Hollywood sobre a história de Hollywood. Hugo é uma fantasia que faz um ajuste de contas com um dos pioneiros do cinema. Os dois, filmes bonitos e imperfeitos, que pecam ou por uma ingenuidade calculada, ou por uma esquematismo industrial. Dois filmes que se declaram apaixonados por tudo o que veio antes deles.
Eu torci pela simplicidade de O Artista, mas eu não ficaria incomodado se a materialização da grande paixão de Martin Scorsese tivesse sido vitoriosa na categoria principal. Com candidatos como estes, quem ganha é o cinema.
OS ATORES
Pela primeira vez na história de minhas apostas ao Oscar, consegui acertar todas as 8 categorias consideradas principais: filme, direção, atores e roteiros. E desta vez os dois quesitos dedicados aos protagonistas tinham brigas boas. Jean Dujardin terminou reconhecido por sua performance inspirada em O Artista, onde emula os atores mudos com uma inteligência corporal digna de nota. Até o momento final, George Clooney parecia ter chances por sua interpretação sóbria em Os Descendentes, que terminou vencendo apenas pelo roteiro adaptado.
O momento mais explosivo da noite foi a vitória de Meryl Streep por sua Margaret Thatcher em A Dama de Ferro. Depois de um jejum de 29 anos, a maior atriz do cinema americano ganhou reconhecimento da Academia, mas precisou seguir algumas regras como viver uma figura histórica e usar quilos de maquiagem. O filme não é dos melhores, mas Meryl, sobretudo quando interpreta uma senhora idosa, está brilhante. Mesmo quando beira a caricatura, nas cenas de Thatcher no poder, é uma grande atriz. Viola Davis de Histórias Cruzadas, sua principal concorrente, não teve forças diante desse “Oscar bait” de Streep. Melhor, Viola é uma boa atriz, mas este filme é bem fraco.
Para que o filme não saísse de mãos vazias, a Academia seguiu as premiações prévias e deu a Octavia Spencer o Oscar de atriz coadjuvante. Talvez tenha sido a estatueta mais óbvia da noite, já que nenhuma de suas adversárias teve apoio do buzz. A performance é correta, mas segue uma fórmula fácil. Era uma das candidatas menos interessantes. Nenhuma surpresa também entre os atores coadjuvantes. Ganhou Christopher Plummer por Toda Forma de Amor, numa clara premiação pelo conjunto da obra, já que Plummer, aos 82 anos, nunca havia sido reconhecido como grande ator que não é. Pelo menos está simpático e faz um personagem corajoso no conceito.
Max Von Sydow, cuja indicação foi no susto já que ele passou despercebido pela temporada de prêmios, mesma idade de Plummer, era o único que tinha chances por Tão Forte e Tão Perto, mas ficou para uma próxima (vida, alguns diriam). Nem seria certo que um grande ator como Von Sydow fosse lembrado por um filme tão medíocre.
PREVIAMENTE ANUNCIADOS
Embora fosse natural que o favorito ao prêmio de melhor filme também fosse o preferido na categoria de roteiro, O Artista, mesmo nunca se esquecendo de suas chances, sempre foi preterido nas apostas por Meia-Noite em Paris, do Woody Allen. O favoritismo de Allen se manteve aqui e ele, pela quarta vez, ganhou um Oscar e não foi buscar. Por sinal, esta foi a primeira vez desde que Menina de Ouro, em 2005, venceu o Oscar que o filme eleito na categoria principal não tem o roteiro premiado.
Outra certeza da noite era a vitória de Rango como longa de animação. Depois que a Academia esnobou As Aventuras de Tintim, o filme de Gore Verbinski ficou sem concorrentes. Mesmo com as estatísticas que não favorecem os favoritos em filme estrangeiro (veja A Fita Branca, por exemplo), A Separação, que ganhou praticamente todos os prêmios do ano nesta categoria, parece nunca ter sentido a presença de adversários. Um prêmio merecidíssimo para o longa iraniano, um dos melhores do ano.
Nas categorias técnicas é que, muitas vezes, o Oscar surpreendeu. A Invenção de Hugo Cabret roubou o Oscar de fotografia que parecia ser de A Árvore da Vida, que merecia muito mais o prêmio, e ganhou também no quesito efeitos visuais, onde o favorito era Planeta dos Macacos: A Origem. O filme de Scorsese ainda levou os dois Oscars de som, onde muita gente apostava em sua vitória, e de direção de arte, em que era uma barbada. Mas nenhuma surpresa foi maior do que em montagem, onde a dupla de editores de Os Homens que Não Amavam as Mulheres, levou seu segundo Oscar consecutivo. Em 2011, eles já haviam ganho por A Rede Social, do mesmo David Fincher.
O Artista, cotado para este prêmio, terminou reconhecido pelos figurinos, onde a tradição é quem privilegiar roupas de épocas bem mais remotas do que os anos 20 e 30, e pela trilha sonora deliciosa, que era a favorita mesmo, e derrubou por duas vezes o John Williams. A Dama de Ferro ganhou merecidamente em maquiagem, um trabalho delicadíssimo e preciso, o que deixou a série inteira de Harry Potter sem um único Oscar. No mundo, deve ter sido a derrota mais lamentada, mas no Brasil a categoria mais esperada foi outra, melhor canção. Carlinhos Brown e Sergio Mendes perderam para os Muppets. E mereceram perder. “Real in Rio” é um sambista para exportação que não fede nem cheira. “Man or Muppet” era bem melhor. E de importância fundamental para a história do filme. Mas só com um sistema de votação cada vez mais estranho e apenas duas indicadas, talvez já seja a hora de por fim a esta categoria.
OS VENCEDORES
filme: O Artista
direção: Michel Hazanavicius, O Artista
ator: Jean Dujardin, O Artista
atriz: Meryl Streep, A Dama de Ferro
ator coadjuvante: Christopher Plummer, Toda Forma de Amor
atriz coadjuvante: Octavia Spencer, Histórias Cruzadas
roteiro original: Meia-Noite em Paris
roteiro adaptado: Os Descendentes
filme estrangeiro: A Separação
filme de animação: Rango
fotografia: A Invenção de Hugo Cabret
montagem: Os Homens que Não Amavam as Mulheres
direção de arte: A Invenção de Hugo Cabret
figurinos: O Artista
maquiagem: A Dama de Ferro
trilha sonora: O Artista
canção: “Man or Muppet”, Os Muppets
mixagem de som: A Invenção de Hugo Cabret
edição de som: A Invenção de Hugo Cabret
efeitos visuais: A Invenção de Hugo Cabret
documentário: Undefeated
curta de ação: The Shore
curta de animação: The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
curta documentário: Saving Faces
Como disse, quem ganhou foi o cinema. A qualidade desses filmes foram bem superiores a edições passadas do oscar. Espero que o futuro traga menos blockbusters…
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Este último Harry Potter não merecia. O anterior, talvez.
Uma coisa é certa: por mais merecido que o Oscar de “O Artista” possa ser,e por mais interessante que seja ver um filme francês sendo premiado, este é mais um ano em que a Academia cava sua cada vez maior distância para com o público de cinema.
Há quanto tempo o velho e bom filmão hollywoodiano, não leva o Oscar?
Talvez “Hugo Cabret”, sem “O Artista” no caminho, como puro Hollywood que é, e ainda de um diretor lendário, e filmado em majestoso 3D, pudesse cumprir esse papel, ganhando também nas categorias principais.Mas que infelizmente não teve grande repercussão nas bilheterias.
Senão, corre-se o risco de indicar nove ou dez filmes por ano, mas continuar passando em branco para o público, e é ignorando filmes como o último “Harry Potter”, que foi ótimo, cujo único pecado foi ser um grande sucesso comercial, é que não se reverterá esse fato, pois é fato.
Surpresa em montagem e efeitos visuais.Bem que podia ter surpresa em atriz coadjuvante com berenice trejo e roteiro original para a separação.De resto esse oscar foi o mais justo e legalzinho dos ultimos anos.Agora o que da raiva Chico,é os discursos mais besta que o outro.O diretor do artista em vez de falar sobre cinema,o momento do filme nos cinemas,sobre os adversarios,ele fica gritando:eu tenho um oscar!eu amo minha esposa!crianças vão dormir.Vai lamber sabão meu!
Obrigada querido amigo Chico por nos presentear com esse impecável texto sobre a edição 2012 do Oscar. Seu olhar apurado e inormacao qualificadissima supre uma lacuna para muitos que, assim como eu, não puderam assistir a transmissão . Beijo grande.