Oz - Mágico e Poderoso

Oz – Mágico e Poderoso parece um projeto estranho à filmografia de Sam Raimi. Embora sempre tenha dirigido filmes com fortes elementos fantásticos, de A Morte do Demônio até os três primeiros longa do Homem-Aranha, esta é a primeira vez em que ele se aventura pelo cinema destinado prioritariamente ao público infantil, ineditismo reforçado pelo caráter clássico do material. O novo trabalho do cineasta é um prelúdio da história vista em O Mágico de Oz, o filme de 1939, realizado por Victor Fleming. Raimi resolveu voltar no tempo, descartou os personagens mais famosos desse universo, e se propôs a contar como foi a chegada do mágico à Terra de Oz.

Como todas as adaptações das histórias de Oz para o cinema – e elas foram mais de 100 embora a gente sempre lembre de uma ou duas -, Oz, o filme, tem como fonte de inspiração uma série de 14 livros escritos por L. Frank Braum no início dos anos 1900. Livros que contam histórias diferentes, com personagens diferentes, em torno do mundo encantado criado pelo escritor. As possibilidades eram tantas que, em 1925, um filme mostrou Dorothy como a princesa perdida do reino, escondida na Terra (=Kansas) para não conhecer os malvados inimigos dos pais. No quarto livro da série, em que ela e o mágico voltam a Oz, Braum descreve como teria sido a primeira ida do ilusionista para a terra dos munchkins.

Este foi o ponto de partida para Sam Raimi desenvolver seu filme, que tem a clara intenção de fazer referências diretas ao longa de Fleming, mas que peca por alguns excessos. O principal deles é a adoção, sob a égide da homenagem, de um visual assumidamente fake para os cenários e os efeitos visuais. Embora pareça querer reforçar o aspecto fantástico do longa, afastando-se de qualquer preocupação com realismo e se aproximando da plástica do filme de 1939, Raimi parece forçar o espectador a comprar uma ingenuidade visual que funcionou muito bem 74 anos atrás, mas que não dialoga com um espectador acostumado a que os efeitos visuais o aproximem das mais variadas loucuras.

Existe uma certa insistência nessa opção, o que diminui o impacto de muitas das primeiras cenas em Oz, onde o diretor parece mais interessado em mostrar o cenário do que em contar a história – isso em se tratando de um filme completamente narrativo. No entanto, alguns acertos surgem nos primeiro momentos do longa: James Franco, a princípio uma escolha esquisita para ser o personagem-título, consegue dar ao protagonista um sarcasmo que o livra da caricatura e traduz sua amoralidade. Oz é um ilusionista de um circo itinerante, que vive de enganar nos palcos e fora deles. Seus pequenos golpes ganham um caráter mais nobre quando ele deixa o Kansas num tornado e vai parar numa terra que estranhamente tem seu nome.

Por sinal, não explicar, nem dar muita bola, para essa coincidência mostra que Sam Raimi tem uma visão bem interessante de Oz, a de delírio coletivo. E como parte desse conceito, o diretor costura uma série de homenagens ao filme estrelado por Judy Garland, desde opções visuais, como a maquiagem da Bruxa Má do Oeste, uma vilã deliciosamente anarquista, até alguns cenários que fizeram parte de cenas importantes do longa clássico, como o jardim de flores que fazem as pessoas dormirem. Reassistir o longa de 1939 é recomendado para que as referências fiquem mais evidentes. Michelle Williams, Mila Kunis e Rachel Weisz também compram a proposta e oferecem performances que não se limitam à caricatura.

Mas Oz funciona melhor, funciona realmente quando o diretor deixa claro que sua homenagem não é apenas a um filme ou aos livros que o inspiraram, mas ao cinema enquanto arte do ilusionismo. Raimi, como grande cinéfilo, retoma algumas ideias que estão no primeiro ato do filme e transforma a meia-hora final do longa num tributo ao poder de encantamento das imagens. A viagem no tempo vai até às feiras e circos que apresentavam os primeiros filmes como uma atração misteriosa, em que o fascínio pelo desconhecido transformava tecnologia em mágica e ajudava a encantar multidões. A homenagem não funciona o tempo inteiro, mas pontua um filme que tem muito mais a oferecer do que uma impressão inicial.

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[Oz – The Great and Powerful, Sam Raimi, 2013]

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2 comentários sobre “Oz – Mágico e Poderoso”

  1. Não aguento mais filmes sobre uma comunidade impotente à espera de um redentor profetizado, que é sempre alguém repleto de falhas ou inseguranças, mas que por fim se mostra à altura da tarefa. É impressionante esse plot messiânico domina a dramaturgia hollywoodiana hoje.

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