Quem acha que desenho animado é coisa de criança pode parar de ler aqui. Não é preciso ter menos de 12 anos para se deliciar com uma animação criativa. E não são os filmes que mudaram o conceito do gênero, como Shrek e South Park. O assunto aqui é o estúdio Pixar, que criou o que se pode chamar de clássico contemporâneo no mundo da animação, mantendo o encanto dos desenhos da Disney e conversando com a tecnologia. Fez os dois Toy Story, Vida de Inseto e Monstros S.A.. Na sexta-feira, o Brasil mergulhou em Procurando Nemo.
O longa conta a história do peixinho que se perde em mar aberto e é procurado pelo pai. A jornada de milhares de léguas submarinas é uma aventura sem precedentes, com coadjuvantes do porte de uma peixinha desmemoriada, uma tartaruga chapada e três tubarões que montaram um grupo para tentar se livrar do vício de comer carne de peixe. Procurando Nemo se equilibra com perfeição entre aventura, comédia e drama. É um longa com perfil clássico, mas feito para o público de hoje. Sem ser maniqueísta, discursa sobre a liberdade e sobre nossos pequenos e imensos desafios pessoais. A seqüência inicial é de uma competência dramática impressionante.
A delicadeza da história às vezes é escondida pela espetacular concepção visual dada ao longa. O universo do fundo do mar e suas possibilidades de cores ganham a tela numa mistura explosiva de luz e de forma. Tudo é construído com tanta perfeição que dá para acreditar que realmente existe material filmado na tela. A Pixar é genial porque ela constrói universos. Fazer o espectador acreditar no que vê na tela é a função primordial de um cineasta. Para embalar pelo encanto, pela sutileza, pela história, é preciso talento. E para perceber que Procurando Nemo foi feito por gente com talento, pode-se ter qualquer idade, mas é necessário saber como é sério ser criança.
Procurando Nemo
Finding Nemo, EUA, 2003
Direção: Andrew Stanton e Lee Unkrich
Elenco: Albert Brooks, Ellen DeGeneres, Alexander Gould, Willem Dafoe, Brad Garrett, Allison Janney, Austin Pendleton, Stephen Root, Vicki Lewis, Joe Ranft, Geoffrey Rush, Andrew Stanton, Elizabeth Perkins, Nicholas Bird, Bob Peterson, Barry Humphries, Eric Bana, Bill Hunter, Bruce Spence.
Roteiro: Andrew Stanton, Bob Peterson e David Reynolds. Produção: Graham Walters. Fotografia: Sharon Calahan e Jeremy Lasky. Direção de Arte: Ralph Eggleston. Edição: David Ian Salter. Música:Thomas Newman.