SEABISCUIT – ALMA DE HERÓI

Quase todos os anos, Hollywood se masturba. Ou masturba o grande país que deveriam ser os Estados Unidos. A homenagem é levar às telas histórias de pessoas simples que se estruturam na superação de obstáculos, na busca de sentido para suas vidas. Pequenas histórias que dão lições e que ajudam as pessoas comuns de verdade, como eu e como você, a trazer para as nossas realidades verdades universais importantes de se praticar. Para dar mais credibilidade aos roteiros, quase sempre eles são adaptações de livros que enaltecem a boa gente que mora na América. Os filmes são discretos. Os temas, grandiosos. Os engana-trouxas surgem com produção caprichada, diretores ou desconhecidos ou de boa reputação e muitas possibilidades de aparecer com boa visibilidade na festa do Oscar.

Foi assim com Campo dos Sonhos (Phil Alden Robinson, 89), O Encantador de Cavalos (Robert Redford, 98) e com esse Seabiscuit – Alma de Herói, que vem depor contra a carreira de Gary Ross, que tinha estreado com o belo A Vida em Preto-e-Branco (98). Pois bem, Seabiscuit é sobre superação. Só há fracassados no filme. Um jóquei abandonado pela família, um empresário que perdeu dinheiro e um filho e um instrutor que não encontra um espaço para trabalhar. Todos querem descobrir um novo sentido para suas vidas. Inclusive aquele que une todos os três: um cavalo. Seabiscuit, o animal, era bonzinho até demais, mas comia muito e gostava de dar umas cochiladas. Resultado: a fama de preguiçoso e glutão o afastou da futura carreira de ídolo do esporte. E Seabiscuit vira cavalo-escada para campeões. O destino deixou o bicho furioso. Ele virou uma fera do estábulo. E domá-lo parece ser a única solução para que as vidas de todas as personagens mais importantes do filme se reestruturem.

O roteiro fala sozinho, né? Então, vamos ver porque será que esse está disputando tanto prêmio. Primeiro, Gary Ross reuniu um elenco de peso. William H. Macy, bom ator em bom momento, Chris Cooper, bom ator em momento clichê, Tobey Maguire, bom ator em mau momento, e Jeff Bridges, que nunca foi bom ator, mas que sempre foi uma figura muito simpática com quem você tomaria uma cerveja, em bom momento. Isso já chama atenção. Olha a credibilidade de novo. A técnica do filme é muito competente em diversas áres: da direção de arte à sonoplastia, com destaque para a fotografia de John Schwartzman, que explora as pigmentações como pode e nos dá vermelhos, verdes e azuis bem bonitos. A música de Randy Newman, outro favorito das melodias doces e envolventes, embala tudo. Ah… é isso. Seabiscuit é um montão de bobagens embaladas com papel de presente.

Seabiscuit – Alma de Herói
Seabiscuit, Estados Unidos, 2003
Direção e Roteiro: Gary Ross, baseado no livro Seabiscuit, de Laura Hillenbrand.
Elenco: Jeff Bridges, Chris Cooper, Tobey Maguire, Elizabeth Banks, Valerie Mahaffey, Michael O’Neill, Annie Corley, Michael Angarano, Ed Lauter, Gianni Russo, Sam Bottoms, David Doty, Royce D. Applegate, Dyllan Christopher, Gary Stevens, David McCullough (narração).
Produção: Kathleen Kennedy, Frank Marshall, Gary Ross e Jane Sindell. Fotografia: John Schwartzman. Edição: William Goldenberg. Direção de Arte: Jeannine Claudia Oppewall. Figurinos: Judianna Makovsky. Música: Randy Newman.

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