[filme b pré-fabricado]


Pode até ser que eu seja mal humorado e certamente vão me acusar de não embarcar no espírito do filme, mas o zumzumzum em torno de Serpentes a Bordo só deixa a experiência de assisti-lo mais frustrante. O grande problema é o quanto o filme é pretensioso na sua tentativa de ser o maior guilty pleasure dos últimos tempos, se sujeitando a excessos no roteiro que soam como sobras que num plot que, limpinho, já garantiria bastante diversão.

A diferença básica entre este último filme de David R. Ellis e seu anterior, o excelente Celular – um Grito de Socorro é o quanto se acredita na história que está se contando. Basicamente faltou um roteirista exemplar como Larry Cohen, um cara que entende não apenas de timing, mas de cooptar o espectador com a própria inverossimilhança da história. Sente falta também de alguém que saiba conduzir o filme nesta linha entre comédia e aventura sem deixar de dar consistência ao material.

As cenas no banheiro, por exemplo, são tão gratuitas que ficaram sem graça. Parecem ter sido escritas simplesmente para não deixar dúvidas sobre a condição do filme de marco pop-trash-cult dos anos 2000. São justamente cenas como estas que vão fazer o filme fracassar no seu intento. Com certeza haverá legiões de culto, mas que se formarão muito mais pelo status que o filme ganhou do que por suas qualidades. De uma maneira geral, há muitas idéias repetidas, desde situações de roteiro até perfis de personagens. Não há a mínima preocupação em torná-los verossímeis. E olha que temos um elenco até razoável, com Samuel L. Jackson como o nigga de sempre, Julianne Margulies, a boazinha de sempre, e Bobby Cannavale, correto.

Não é que o filme não divirta – isso até ele faz – nem que não tenha bons sustos – alguns, eu disse alguns, até que ele tem. O tom politicamente incorreto também é um ponto a favor. O problema é não funcionar como conjunto e exagerar nas imagens trash. As cobras excessivamentes virtuais também não ajudam muito, mas é o tratamento que deu errado. Deve ter um público mais fiel quando for lançado em DVD, seu habitat inquestionável. Se virar marco pop desta década vai ser como piada e não como um filme b classe a.

[serpentes a bordo ]
direção: David R. Ellis.
roteiro: John Heffernan e Sebastian Gutierrez, a partir de história de John Heffernan e David Dalessandro.
elenco: Samuel L. Jackson, Julianna Margulies, Nathan Phillips, Sunny Mabrey, David Koechner, Bobby Cannavale, Kenan Thompson, Todd Louiso, Byron Lawson, Rachel Blanchard, Terry Chen, Keith Dallas, Casey Dubois, Daniel Hogarth, Emily Holmes, Mark Houghton, Bruce James, Taylor Kitsch, Elsa Pataky.
fotografia: Adam Greenberg. montagem: Howard E. Smith. música: Trevor Rabin. desenho de produção: Jaymes Hinkle. figurinos: Karen L. Matthews. produção: Craig Berenson, Don Granger e Gary Levinsohn. site oficial:
Serpentes a Bordo. duração: 105 min. Snakes on a Plane, Estados Unidos, 2006.

nas picapes: [reverberation, the jesus and mary chain]

Comentários

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8 comentários sobre “[serpentes a bordo]”

  1. Não sei se um filme desses precisa de personagens minimamente verossímeis, mas (depois de quase um mês de discordâncias, hehe) concordo no geral. Faltou a espontaneidade de Celular, muito superior e muito mais divertido.

  2. Olha, independente do filme ser bom ou ruim (ou tão ruim que é bom, e vice-versa) acho que o principal motivo do filme fracassar na bilheteria é porque na verdade a grande maioria das pessoas NÃO GOSTA de filmes assim: B, trash, esculachado, exagerado, etc. A maiorias das pessoas que eu conheço, pelo menos, incluindo as não-cinéfilas. Se filmes assim fizessem sucesso hollywood só faria isso o tempo todo.

  3. E ai Chico, tudo bem?

    Cara, ainda continuo recebendo emails da liga dos blogues mesmo depois de pedir meu desligamento. Tem como dar uma olhada nisso pra mim?
    Valeu!
    Abraço

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