Vi muito pouca coisa do Festival Internacional de Curta-Metragens de São Paulo deste ano. Cerca de 20 filmes, entre eles os brasileiros O Que Lembro, Tenho, de Rafhael Barbosa, e O Olho e o Zarolho, de René Guerra (leia entrevista aqui) e Juliana Vicente, sobre os quais escrevi separadamente. Selecionei neste post alguns dos curtas estrangeiros, entre os que me impactaram para o bem ou para o mal.

A Lamparina de Óleo de Iaque

O título sugere mais um daqueles filmes étnicos que se vendem pela beleza das pequenas coisas, mas A Lamparina de Óleo de Iaque, que até tem um pouco disso, se revela aos poucos um cuidadoso trabalho que se se transforma num pequeno mosaico e numa grande homenagem aos moradores do Himalaia. O filme parte de uma ideia simples – a da foto de família posada -, mas Wei Hu consegue renová-la o tempo inteiro para, com humor e inteligência, reservar um golpe final poderoso que divaga sobre a força de uma imagem e mostra como a “primeira vista” pode enganar.

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[La Lampe au Beurre de Yak, Wei Hu, 2013]

Come and Play

Come and Play é um filme cheio de intenções. Daria Belova parece querer fazer um tratado definitivo sobre os efeitos psicológicos de uma guerra e se cerca por uma série de colaboradores eficientes, sobretudo o diretor de fotografia que entrega um dos pretos-e-brancos mais bonitos dos últimos muitos anos (e uma das cenas de terror mais assustadoras também; uma que envolve braços e árvores). Mas a diretora não acerta em dar textura a sua “mensagem”, que sempre parece ser defendida como panfleto, a partir de símbolos impactantes. O resultado é mais cosmético do que profundo.

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[Komm und Spiel, Daria Belova, 2013]

Agit Pop

A impressão inicial é de que estamos numa indie-hipster-colorida, mas Nicolas Pariser arrasta por tanto tempo seu filme sobre o último dia de uma revista de cultura francesa que consegue traçar um desenho mais do que satisfatório das várias personagens e instalar um clima melancólico sincero no cenário estilizado. Agit Pop tem 31 minutos, mas eles passam rápido por causa do texto inteligente, das várias referências e de seu inesgotável bom humor. Coisas que Wes Anderson deixou escapulir em Moonrise Kingdom.

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[Agit Pop, Nicolas Pariser, 2013]

A Fuga

Urso de Ouro em Berlim, este filme prova como os grandes festivais ainda cobram dos curtas uma estrutura de longa-metragem. Embora seja bem dirigido e tenha uma narrativa dramática forte, A Fuga não acrescenta muito aos modelos dos longas de cunho social dos irmãos Dardenne ou de Abdellatif Kechiche. Jean-Bernard Marlin, em seu segundo trabalho, compensa essa falta de inventividade com muito rigor na história do assistente social que tenta recuperar uma menor infratora, o que deixa seu filme extremamente coeso. O final, bem escrito, garante sua pontuação.

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[La Fugue, Jean-Bernard Marlin, 2013]

Abu Rami

Uma ideia simples: o problema num carro faz um casal ter uma discussão em que segredos são revelados. Simples, mas executada com frescor. A simpatia dos dois atores, bem gente como a gente, o cenário, um Líbano bem parecido com Brasil, e o texto bem humorado ajudam a justificar os 17 minutos de Abu Rami e criam uma relação do espectador com os personagens. A sacada final é o golpe certo para conquistar de vez.

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[Abu Rami, Sabah Haider, 2012]

Gloria Victoria

Esta animação canadense tem um dos conjuntos plásticos mais bonitos deste ano. Durante seis minutos, Theodore Ushev usa música erudita, sempre alta e difícil de escapar, e imagens clássicas do surrealismo e do cubismo para, literalmente, pintar um quadro vivo sobre o que é a guerra e como a arte pode ser um veículo tanto para afirmá-la como para atacá-la. As imagens em cores fortes e o traço sempre marcado, cheio de contornos, capturam esse discurso, deixando Gloria Victoria mais forte e impetuoso.

Gloria Victoria EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[Gloria Victoria, Theodore Ushev, 2013]

Montanha em Sombra

O único pecado deste belo trabalho de Lois Patiño é que sua duração diminui seu impacto visual. E Montanha Sem Sombra é basicamente uma experiência de linguagem criada a partir da capacidade de ilusionismo. Durante alguns bons minutos, o espectador acompanha os movimentos de esquiadores num cenário gelado, confuso sobre se está assistindo uma animação ou um filme em live-action. A incerteza ajuda a povoar a sucessão de imagens deste curta espanhol com um questionamento sobre o lugar do humano no meio da imensidão.

Montanha em Sombra EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Montaña en Sombra, Lois Patiño, 2013]

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3 comentários sobre “Sete pequenos filmes do Festival de Curtas 2013”

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