Star Trek

Star Trek é um filme para fãs. E Star Trek é um filme para leigos. O longa de J.J. Abrams, que reintroduz os personagens de Gene Roddenberry no cinema, atende todo o tipo de espectador, o que dá uma inédita universalidade ao material. Pela primeira vez, ao que parece pelo menos, é revelada a origem de Kirk e Spock e, a partir daí, é mostrada a formação da tripulação da Enterprise, com alguma liberdade na introdução dos personagens. Mexer num universo com mais de 40 anos de história, dezenas de derivados e uma legião de seguidores é extremamente delicado, mas Abrams e um par de roteiristas conseguiram dar conta do maior desafio de qualquer adaptação: criar uma história sólida, que respeita a obra original, sem se tornar refém dela, ao mesmo tempo em que apresenta uma capacidade de se comunicar com o espectador por si só.

E isso é bastante para alguém como Abrams, produtor e roteirista experiente, mas um diretor que ainda dá os primeiros passos. Assinou onze episódios de séries de TV, entre elas Lost, que tem seguidores tão fervorosos quanto Star Trek, mas só tinha um longa no currículo, Missão: Impossível III, cujo resultado foi apenas mediano. Se seu passado no cinema não o credenciava para esta jornada nas estrelas, Abrams foi buscar na TV a inspiração que precisava para a nova empreitada. A espinha dorsal do novo Star Trek se alimenta essencialmente das viagens no tempo e suas consequências, mola mestra para Lost, que permite que o diretor faça um carinho nos fãs ao permitir que Leonard Nimoy retome seu papel como Spock. Todas suas cenas devem causar arrepios nos trekkers. Todas são justificadas.

Se a presença do velho Spock agrada pela nostalgia imediata, Zachary Quinto se mostra à altura para assumir o papel. Um papel naturalmente muito difícil porque lida basicamente com a negação da emoção. E isso não tem nada a ver com má interpretação. Quinto evoca o Spock clássico, mas também sabe fazer seu personagem existir isoladamente. E quem duvidava da escolha de Chris Pine como o capitão Kirk, como eu, vai ter uma surpresa. Pine segura o papel muito bem – boa parte do filme está em suas costas -, e tem alguns momentos brilhantes, em que consegue traduzir e homenagear a impulsividade e o espírito aventureiro do personagem. Uhura, Sulu e Chekhov também ganharm bons intérpretes, mas o novo dr. McCoy de Karl Urban e o novo sr. Scott de Simon Pegg estão impagáveis e reforçam a linha de humor do filme.

O filme de Abrams ainda se reafirma por uma questão de tecnologia. É inegável que, nos dias de hoje, qualquer filme de ficção-científica feito há 20, 30, 40 anos ganha uma gama de possibilidades, tanto para a confecção do roteiro quanto em termos visuais. Coisa inédita tempos atrás. Star Trek é um escândalo visual: além dos efeitos, a direção de arte é belíssima, seja digital ou não. Mas a estética nunca está em primeiro plano. Sempre é coadjuvante de intérpretes e do roteiro, o grande interesse de Abrams. O diretor nunca está interessado em desfilar referências nem nunca se escora na mitologia da série. Para ele, foi muito mais importante estabelecer uma história independente, redonda, mas que saiba ser fiel ao universo que audaciosamente resolveu invadir. Um filme, literalmente, de respeito.

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[Star Trek, JJ Abrams, 2009]

Comentários

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18 comentários sobre “Star Trek”

  1. O roteiro é ótimo, e a participação do Spock original só reforça isso – porque não é gratuita, foi muito bem costurada na trama. E os atores surpreendem mesmo! O melhor é esta coisa de ser um filmes pra todos os públicos. É o melhor longa de entretenimento do ano até agora.

    Olha que interessante, notei um “fenômeno Alexandre” no filme: pela idade, Winona Ryder nunca poderia ser mãe do Zachary Quinto, assim como Angelina Jolie e Colin Farrell. E, aparentemente, os dois casos terminaram em… incesto!!! Será?? 🙂
    http://www.celebuzz.com/everyone-shows-up-star-trek-s103801/

  2. eu gostei muito. e faço parte dos leigos.

    roteiro impecável e envolvente, humor, cenas de ação na medida certa, elenco competente e uma pitadazinha de romance. tudo isso faz dele super candidato a “grande sucesso de 2009”.

    quando eu crescer quero fazer resenha que nem você. 🙂

    beijoca.

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