Tabu

Em 1931, o som já havia chegado aos filmes. Hollywood era dominada pelos estúdios e o cinema estava mais interessado em criar e faturar com suas estrelas do que em projetos autorais. Quatro anos antes, F.W. Murnau, que foi “importado” da Alemanha para os Estados Unidos havia transformado uma simples história de amor num dos maiores filmes de todos os tempos. “E agora, onde estará a inocência?”, deve ter pensado um dos grandes cineastas de sua época, talvez o principal. Foi assim que ele partiu para a Polinésia Francesa para rodar Tabu, basicamente um filme sobre a perda dessa inocência, sobre a impossibilidade do amor diante de um novo mundo. Talvez uma metáfora para a situação do próprio Murnau no meio de uma indústria que queria produtos e não obras.

O parceiro do diretor nessa epopeia foi o documentarista Robert Flaherty, co-autor do roteiro, que nove anos antes tinha ido ao Pólo Norte para “registrar” a vida do esquimó Nanook. Lugares exóticos não eram problema para ele. Flaherty foi o responsável pelo lado documento do filme. Sua experiência em transformar os esquimós em atores ajudou a domar um elenco repleto de nativos. A falta de atores profissionais dá ao longa uma certa precariedade dramática, mas provoca o efeito pretendido por Murnau: encontra na simplicidade dos habitantes da ilha de Bora Bora e do Taiti a pureza que o cinema havia perdido. Curiosamente, uma pureza cuja ruína a própria história do filme ajuda a contar, mas que é recuperada justamente pela intervenção da tecnologia.

Mesmo escolhendo fazer um filme silencioso, provavelmente para captar um mundo ainda intocado, Murnau não não abriu mão de um arsenal de efeitos e truncagens. O fotógrafo Floyd Crosby deixa a beleza da luz nas águas para encher a tela com closes dos protagonistas, nos remetendo a A Última Gargalhada e usa sua técnica de dar a forma aos sonhos num engenhoso artifício de montagem, como era em Aurora. O encantamento reina absoluto desde a invasão de canoas no mar de Bora Bora até a primeira (e veloz) aparição do guardião das pérolas. Tabu foi o último filme de Murnau, que morreu logo depois, e permanece como sua herança final. Não é curioso como um projeto tão pensado, calculado possa ter resultado num filme tão aparentemente simples? O amor proibido nunca ganhou um contador de histórias tão consciente e delicado.

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[Tabu, F.W. Murnau & Robert J. Flaherty, 1931]

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