Fiquei mais certo de que seria algo assim quando o filme voltou a ser exibido em Salvador, uma semana depois de sair de cartaz. Animadíssimo, fui ao cinema e a cópia havia dado problema. Fiquei pensando que aquilo era um aviso dos céus: aquele filme deveria ser o melhor o filme do ano, o meu favorito. E esse monte de coisas conspirando para eu não vê-lo no cinema me fazia ter cada vez mais certeza. Pois bem, chegou o domingo. O shopping estava lotado de pessoas felizes buscando seus presentes de Natal. Pessoas que geralmente andam muito lentamente porque querem olhar todas as vitrines e, assim, terminam empatando seu caminho até o cinema. Mas eu venci. Cheguei à bilheteria e o problema do dia anterior estava resolvido. Era eu e o filme de Cameron Crowe.
Um close na cara de tacho de Orlando Bloom pode mudar muito do que pensa de um filme. Bastou aquela primeira cena para saber que algo estava errado. Entrou a musiquinha fofinha como as que me conquistaram tanto em Quase Famosos (2000) e uma narração meio tosca começou a me fazer pensar que meus amigos poderiam estar certos. E aí vem todo o resto da seqüência contextualizando a história do nosso loser de plantão. Uma história que parece rabisco de escritor de quinta que apela para um humor fraquinho, retirado de situações e personagens inverossímeis (ô Alec Baldwin! Ô Jessica Biel!). E quando você acha que um começo de filme não poderia ser pior, nosso protagonista decide que não: ele pode deixar a história pior. Mas antes de que ela consiga toca o telefone. Aí, a história fica muito pior do que se imagina.
Detalhe: até esse momento (que não é nem um quarto do filme, você já ouviu cerca de 20 músicas diferentes).
Então, a volta às raízes de nosso herói (losers também podem sê-lo) começa. Crowe não sabe muito bem o que quer fazer com ela: ora parece um acerto de contas de pai e filho, ora assume os ares de comédia amalucada com personagens esquisitonas, ora é história de amor sem muita profundidade em nome do “encontro casual”, mas geralmente é um pouco de tudo isso sem ser nada exatamente. Enquanto tenta desenhar a historinha de seu protagonista, um Orlando Bloom completamente apático, o diretor nos explica qual seu objetivo com a trilha sonora. As canções acompanham o movimento, vocês não perceberam? Basta alguém virar o rosto pra lá, abrir os olhos ou entrar num ambiente qualquer para uma música invadir as caixas de som. Claro, tudo sempre é de bom gosto, mas há algumas cenas (cenas, não seqüências em que – sem exagero – aparecem umas cinco musiquinhas).
No meio de tanta referência musical, sobra muito pouco para a história (que talvez seja mesmo o que o diretor pretendia). Mas deu tempo de fazer muita coisa: abobalhar completamente a personagem de Kirsten Dunst, meta que a primeira cena da mocinha já deixa bem clara (mas que ela, tão graciosa, termina driblando… um pouco), abobalhar a personagem de Susan Sarandon (ou falar aquele monte de besteiras para a família que a odeia para ficar engraçadinha é tão legal assim?), deu tempo de estragar um dos momentos mais legais, quando a banda toca “Free Bird” e parece que todo mundo tem salvação (aquela pomba foi demais para mim…), além de desperdiçar a melhor personagem do filme, o primo Jessie, o real loser, que tenta conviver com a própria infelicidade e insatisfação.
Pois bem, eu deveria dar bola preta para este filme, mas – não sei se com os outros foi assim – ele significa alguma coisa para mim porque há momentos geralmente bem curtos em que eu realmente me emocionei. Quando uma conversa entre o primo Jessie e seu pai mostra de onde surgiu tanta tristeza, quando a esposa dedica aquele sapateado desengonçado ao marido morto ao som da música que ele mais ama, que por acaso é a que eu mais amo, ou quando eu comecei a perceber que todos, absolutamente todos no filme, estão completamente sós. Elizabethtown tem imensos defeitos: é frágil como uma pluma, tem um texto preguiçoso, uma trilha excessiva, atores ruins ou atores mal aproveitados, mas há algo de genuíno nele que me comoveu. Eu ainda não sei o que é, talvez nunca saiba, talvez nem precise saber.
Provavelmente entra alguma música aqui para encerrar o texto.
Tudo Acontece em Elizabethtown
Elizabethtown, Estados Unidos, 2005.
Direção e Roteiro: Cameron Crowe.
Ah mesmo. Moon River…gosto da canção também.. Mas ela fica melhor sem sapateado..hehehe
Poxa, parece que ninguém gostou da cena da Sarandon. Uma pena.
E eu gostei mais do que achava que ia gostar de Elizabethtown. Não achei o texto preguiçoso; muito bem construído, aliás.
Mas não acho que seja melhor que, por exemplo, Quase Famosos e Jerry Maguire.
Flw!
Vou olhar, Marlos.
A música é “Moon River”, do Henry Mancini, Ailton.
Marcelo, “Baby Lemonade” é demais.
Apesar do Orlando Bloom, também faço parte do discreto grupo que gostou de “Elizabethtown”. O excesso de canções não me incomodou. A cena do casal pendurado por horas no celular é bem bacana: as mudanças de ambiente com o celular sempre presente dizem mais do que muito diálogo. Os pequenos dramas dos solitários personagens de “Elizabethtown” conseguiram ganhar minha cumplicidade e – quando isso acontece – o filme corre solto pra mim. Foi o que aconteceu (apesar daquela faca na bicicleta, hehehehe). Abraço.
Cara… esse para mim foi até o momento o pior filme do ano. Levei uns três casais amigos e eu enchendo a bola do Cameron Crowe para no final eu ficar com vergonha de ter levado todos ali. sobre o post anterior, o Omelete já disponibilizou um teaser trailer do X3. Dá uma sacada lá e deopis comenta. Eu curti.
Chico, qual e´a música que toca na cena do sapateado da Sarandon? Aliás, eu acho essa cena a mais constrangedora do ano!! hehehehe*** Tá foda andar em shopping essa época do ano, né?
Nossa, me identifiquei muito com o primeiro parágrafo do texto.
Pleeeeeease, pleeeeeeeeeeeeeeaaaaaaase baby lemonade
Eu, incrivelmente, gostei muito de Elizabethtown. Acho que foi mais pelo Crowe mesmo. Adoro a obra do cara (com exceção do Vanilla Sky) !
heheheh…