Existe um conflito que se estende ao longo de Um Homem Adorável, a briga entre o cinema independente e o melodrama tradicional. Teddy Soeriaatmadja ousa ao eleger um travesti como protagonista de um filme na Indonésia, o país que mais abriga muçulmanos no mundo. Ele elege o submundo como cenário, seus habitantes como heróis e, de quebra, ainda tira o véu de uma das personagens principais.
A trama é simples: uma filha parte em busca do pai que a abandonou quando criança, mas o diretor conduz a história com maneirismos de um certo cinema indie que se espalhou mundo afora. A câmera naturalista, com imagens desfocadas, cumpre sua função plástica, cria cenas bem bonitas, mas a trilha sonora minimalista força uma melancolia que já parecia inerente ao material.
No entanto, a ousadia da proposta e a embalagem alternativa encontram um roteiro que, na maioria das vezes, não sabe como fugir de lugares comuns. A estrutura é de novelão, onde o acerto de contas entre pai e filha convive até com uma subtrama de suspense. Mas o filme guarda um trunfo, que garante sua particularidade: nada abala a química entre Donny Damara e Raihaanun, ambos ótimos, sem excessos, exatos na criação de uma relação entre personagens que eram apenas sombras um para o outro.
Um Homem Adorável
[Lovely Man, Teddy Soeriaatmadja, 2011]