Blanche DeBois. Stanley Kowalski. O primeiro encontro dos personagens mais clássicos de Tennessee Williams já é um duelo. O texto de Um Bonde Chamado Desejo acirra esse conflito entre opostos. Não há meio termo. Blanche é a tradição. Stanley, o moderno. Blanche é a magia. Stanley, o realismo. A adaptação para as telas, sob o comando de Elia Kazan, põe mais um capítulo nessa história: Blanche é o teatro. Stanley, o cinema.
Voluntariamente ou não, Kazan contrapôs dois tipos de interpretação radicalmente diferentes e igualmente excelentes. Vivien Leigh tem a herança da Hollywood clássica, pesa a mão no dramático e abusa da afetação em sua composição. Enche a tela e os olhos. Marlon Brando traz o naturalismo do Actor’s Studio pro cinema, com seu improviso ensaiado e sua espontaneidade. Enche a tela e os olhos.
O espectador ora é seduzido pela brutalidade de Brando, ora pela vulgaridade de Leigh. Quase sempre por ambos. Kazan acerta em cheio em transformar esse duelo em osso e carne, criando um filme carregado de tensão sexual, traduzindo como nunca antes e poucas vezes depois a atração entre opostos.
Uma Rua Chamada Pecado
[A Streetcar Named Desire, Elia Kazan, 1951]