Há alguns anos, eu e meus amigos mais próximos criamos uma lista de discussão. Era uma lista bem restrita. Tinha dez membros, mais ou menos. O objetivo era manter o contato entre o grupo já que a vida terminou mandando um para cada lugar. E foi nesta lista que a gente – a maioria, jornalistas – comentou junto os ataques do 11 de setembro. E foi lá que eu briguei feio com uma amiga minha, que defendeu com veemência aquela ação. Eu tenho uma opinião bem simples sobre o terrorismo: eu acho o terrorismo uma merda. Acho completamente injustificável matar pessoas, sob qualquer pretexto que seja.
É por isso que V de Vingança, de Alan Moore, foi tão impressionante para mim. Porque Moore, com toda a bizarrice que se poderia esperar de uma trama do tipo, conseguiu me convencer da importância daquela figura caótica e de suas ações em nome “de um bem maior”. Eu finalmente tinha entendido o terrorismo embora ainda não conseguisse concordar com ele ou aprová-lo, embora minha opinião sobre ele continuasse a mesma. O texto de Moore é muito competente ao dar consistência à lógica do pensamento de V.
A versão da HQ para o cinema é a primeira obra adaptada de um material de Moore que merece o título de bom filme. Os anteriores (o insípido Do Inferno, 2001, e o grotesco A Liga Extraordinária, 2003) não faziam jus ao escritor. Mas V de Vingança é bem-sucedido ao transpor para a tela a complexidade do texto de Moore. O discurso do filme é bem fiel ao original e eficiente ao apresentar as idéias da personagem para a platéia. A grande questão é que sempre parece que o diretor James McTeigue (ou os irmãos Wachowski) apenas reproduz esse discurso e não necessariamente acrescenta algo a ele.
O processo é mecânico, embora eu reconheça um certo frescor na transposição. O longa parece apaixonado pelo texto, mas há concessões. Muitas vezes, o filme político dá lugar ao filme de ação, ao filme de efeitos visuais herdeiro de Matrix. Há cenas em que a busca pelo impacto visual flerta com o kitsch, como nas seqüências finais nas ruas. Esse flerte se reflete às vezes no texto, que no geral é muito bom, mas que cria alguns diálogos sentimentalóides desnecessários. O tal do embate de ideológico é verbalizado em excesso.
Hugo Weaving, mascarado do começo ao fim, é o melhor ator do filme, apesar das boas performances de Natalie Portman e Stephen Rea. É ele o maior responsável por dar credibilidade a V. Se fosse menos boa, sua interpretação poderia desqualificar a ousadia do filme, que merece elogios pela coragem de levar às telas um tema tão controverso. Eu ainda não concordo com assassinato, mas não é este o caso. Eu ainda acho muito boa a obra original, mas isso não vem ao caso também. Mas V de Vingança, o filme, embora sem o mesmo impacto e a mesma eficiência de sua fonte de inspiração, é um bom filme porque, no fim, é a idéia que conta.
[v de vingança ]
direção: James McTeigue. roteiro: Andy e Larry Wachowski, baseado nos personagens criados por David Lloyd e Alan Moore. elenco: Natalie Portman, Hugo Weaving, Stephen Rea, John Hurt, Roger Allam, Clive Ashborn, Sinéad Cusack, Nicolas de Pruyssenaere, Stephen Fry, Selina Giles, Rupert Graves, Ben Miles, Tim Pigott-Smith, Cosima Shaw, John Standing, Natasha Wightman. fotografia: Adrian Biddle. montagem: Martin Walsh. música: Dario Marianelli. desenho de produção: Owen Paterson. figurinos: Sammy Sheldon. produção: Grant Hill, Joel Silver, Andy e Larry Wachowski. site oficial: v de vingança. duração: 132 min. v for vendetta, estados unidos/alemanha, 2006.
nas picapes: [polly, nirvana]
E adoreeeeeeeeeeeeeei o filme!
Chico, eu nunca leio mais que a sinopse quando vou ver algum filme. Mas eu adoro ler os seus textos, antes de escolher um filme para assistir. Beijo.
Estou doido pra ver V de Vingança mas ainda não estreou aqui em JF (droga de cidade …). Mas pelo menos está dando tempo de eu ler as hq’s do Moore que inspiraram o filme, que estou adorando.
eu acho um texto bom, vindo da hq, com uma direção PÉSSIMA. mas na minha sessão as pessoas bateram palma, e eu consigo entender o porquê.
LeoN
Até que o filme consegue ser interessante, ainda que não decole. E considero a relação de V com Evie, descontando os momentos finais, inteligente e bem amarrada.
No geral, a gente sai com a mente atordoada por tanta informação e imagens…. que acabam não se conectando.
Márcio
Se tiver, eu não sei.
No webstats tem a opção de descartar as vezes que eu entro e so contar quando os outros entrarem?