Francis Ford Coppola tinha 72 anos quando dirigiu Virginia, o terceiro filme de um dos maiores cineastas americanos depois de um hiato que durou uma década numa carreira que mudou a indústria do cinema. Junto com Steven Spielberg e Martin Scorsese, Coppola transformou Hollywood, não apenas introduziu novas temáticas e abordagens, mas modificou a própria maneira como os filmes eram feitos. Depois de mais de vinte longa-metragens, de cinco Oscars, de duas Palmas de Ouro em Cannes, de um reconhecimento unânime, o professor se viu na obrigação de criar.
Virginia, que chega mais de dois anos atrasado aos cinemas brasileiros, é uma tentativa de invenção do mestre. A ideia original era de que o filme fosse reconstruído a cada projeção, com o velho Francis pilotando uma caravana para a exibição do longa, que ganharia uma nova montagem a cada parada, o que modificaria o plot e as soluções de roteiro. A trilha também seria executada ao vivo, transformando a obra de acordo com a resposta do público. Coppola pensou em várias variáveis para o filme, mas teve que desistir de suas ambições porque ficou impossível viabilizá-las da maneira correta.
Visionário ou não, Virginia provavelmente está a frente de seu tempo. Confinada num modelo convencional, a história (do escritor decadente que vai para uma pequena cidade como parte de uma pesquisa para um novo livro) ficou completamente deformada. O filme opera o tempo inteiro numa espécie de universo onírico ou de torpor não encontra uma plataforma coerente para suas experimentações de linguagem e de formato. Com tantas barreiras à frente, a liberdade que a história necessita faz o filme desandar para um subproduto do cinema de David Lynch, um desencontro de referências do cinema de terror de baixo custo, da literatura popular.
O filme só acha algum equilíbrio na sequência do sonho, que tem algo de assombroso, justamente o momento em que é permitido se libertar. O fotógrafo Mihai Malaimare Jr., o mesmo de O Mestre, de Paul Thomas Anderson, emoldura os personagens numa espécie de aura que dá novo sentido a eles, especialmente a V, de Elle Fanning. Mas nem isso ajuda o filme a encontrar seu caminho. A necessidade de se enquadrar matou o frescor do projeto que ganhou na aparência decadente de Val Kilmer a tradução mais justa para seu formato final.
Virginia
[Twixt, Francis Ford Coppola, 2011]
2 comentários sobre “Virginia”