Valeska Grisebach parece não ter pressa. Foram longos 11 anos de espera entre seu segundo longa e seu trabalho mais recente, que estreou no Festival de Cannes do ano passado e agora é corajosamente lançado nos cinemas brasileiros. Corajosamente porque a falta de pressa de Valeska não aparece apenas no intervalo em que ela confecciona seus filmes, mas na própria narrativa dos longas, cuja estrutura quase documental revela sem nenhuma urgência os temas que a cineasta pretende discutir.
Western é construído a partir da observação do movimento de seus protagonistas, um grupo de operários alemães destacado para trabalhar numa obra perto de um vilarejo na fronteira da Bulgária com a Rússia. Neste primeiro momento, fica claro que a diretora, que já havia sido consultora de roteiro de Toni Erdmann, de sua conterrânea, Maren Ade, quer discutir os efeitos da globalização.
Valeska parece perguntar o que sobra de sua identidade quando você se vê num outro país, com costumes e culturas tão diferentes. Ela insinua um flerte com um certo cinema de gênero no momento em que estabelece aquele local como uma sociedade desconfiada da presença de estrangeiros, quase uma seita secreta, fechada, em que situações simples são construídas, de certa maneira, como cenas de terror.
Essa imersão num ambiente, a princípio, ameaçador é quebrada pela insistência do personagem principal, Meinhard, uma espécie de Seu Madruga sério, germânico, em se aproximar dos moradores e do cotidiano da região. Num movimento muito comum no cinema atual, o personagem recebeu o mesmo nome do ator, Meinhard Neumann, o que reforça a experiência em si, em detrimento a um roteiro propriamente dito. Praticamente todo o elenco é formado por estreantes, outra escolha que indica as intenções da cineasta.
Uma das coisas mais impressionantes em Western é como uma mulher consegue invadir e traduzir um universo praticamente masculino. O desenraizamento, que está no centro das questões, é um tema universal, mas Valeska não parece interessada em oferecer um “olhar feminino” para esta discussão. Muito longe dos clichês, sua preocupação é entender o que move aqueles personagens e como eles lidam com as situações que o filme apresenta sem um formato fechado ou fácil. Sua missão é muito difícil, mas extremamente bem sucedida.
Western
Western, Valeska Grisebach, 2017