[misticismo e obviedade]


Diante de uma produção cinematográfica tão diversificada quanto cheia de pérolas, é estranho – e lamentável – se deparar com um filme como Cafundó. Os últimos filmes brasileiros de que eu não gostei pecam pelo excesso ou pela falta de impacto, este aqui é pior: é um filme em que os responsáveis parecem não ter a menor idéia do que estão fazendo. O registro histórico pode pecar pela subserviência à personagm (ou pelo contrário, quando o diretor questiona seu retratado a ponto de desmoralizá-lo e colocar em cheque o próprio trabalho. Cafundó ao menos é original nesse aspecto: nem se rende, nem se serve do milagreiro João de Camargo; é apenas uma tentativa – ruim – de biografá-lo.

Há um desacerto completo no filme: o som não funciona bem, a trilha mutante nunca parece estar à vontade, a direção de arte é óbvia e, por isso, saltita aos olhos do espectador em cada cena. A montagem também é pífia, mas por causa do parco material que foi rodado. A culpa maior do tropeço que é esse filme é do roteiro burro, mal escrito, que arranja os acontecimentos ao léu e se apega a uma farofada místico-metafísica mal resolvida para esconder o quanto é primário. Fica patente que Clóvis Bueno não tem a mínima sensibilidade para discutir religião e administrar simbolismos.

A precariedade do roteiro, que fica ralamente melhor quando se ergue a igreja e há a necessidade de mais factualidade, é corroborada por uma direção ausente, incompetente não apenas em dar textura dramática às cenas, mas constrangedora na busca gratuita por imagens de efeito e na própria orquestração – inexistente – do filme.

[cafundó ]
direção: Clóvis Bueno e Paulo Betti.
roteiro: Clóvis Bueno.
elenco: Lázaro Ramos, Leandro Firmino, Leona Cavalli, Valéria Mona, Milhem Cortaz, Alexandre Rodrigues, Renato Consorte, Ernani Moraes, Chica Lopes, Luís Mello, Juliana Betti, Paulo Betti, Abrahão Farc, Francisco Cuoco.
fotografia: Zé Bob. montagem: Sérgio Mekler. música: André Abujamra. desenho de produção: Vera Hamburger. figurinos: Bia Salgado e Mariza Guimarães. produção: R.A. Genaro, Virginia W. Moraes e Paulo Betti. site oficial:
Cafundó. duração: 101 min. Cafundó, Brasil, 2005.

nas picapes: [my doorbell, the white stripes]

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