2 Filhos de Francisco

A pequena história de uma família, um pequeno retrato do Brasil. A cinebiografia da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano é exatamente isso: um filme pequeno. Isso não necessariamente ruim já que, na maioria das vezes, as histórias pequenas são mais interessantes do que as histórias grandes. Mas a pequena história dos irmãos resolveu virar filme numa sala de um executivo (ou algo parecido com isso) da indústria fonográfica nacional, que rende alguns milhões de reais para a dupla há uns bons anos. Então, a dimensão da história já não é mais tão pequena assim.

Ora, se Zezé di Camargo e Luciano venderam vinte milhões de cópias (e o filme adora falar em milhões), o que credencia a dupla um quê de imensamente popular, há muitos outros milhões de brasileiros que não compraram dos discos dos irmãos goianos. Muitos porque provavelmente não têm condição de ficar comprando discos. Mas muitos outros porque simplesmente não gostam muito daquela música, que é ruim mesmo. Então, o filme tinha muita gente a conquistar. O caminho foi apostar na identificação.

2 Filhos de Francisco é exatamente o que dizem: a luta de um pai sonhador em dar um futuro para seus filhos. Mas o diretor Breno Silveira, que estréia com disposição na direção de um longa-metragem, trabalhou então com um modelo de trajetória bem sucedida, de modelo a seguir. Primeiro ponto. O segundo é embalar com propriedade este modelo (fotografia bem cuidada, direção de arte bonita, som de qualidade, música – sertaneja – de raiz para não ferir ouvidos mais eruditos). E mais: um elenco bom o suficiente para dar consistência ao roteiro, que, mesmo com muito apreço a um certo maniqueísmo, é, sim, bem escrito e, sim, consegue momentos emocionantes sem necessariamente recorrer a sentimentalismo barato.

O problema é que é só isso: 2 Filhos de Francisco é um filme correto e só. Aliás, um filme bonzinho. Por sinal, o grande mérito é justamente não ser ruim, o que todo mundo esperava que acontecesse por causa da contestada qualidade da obra de seus retratados. Mas não ser ruim tem tanto mérito assim? Porque, a certo momento, aquela história comprida demais, todo mundo é bonzinho demais, o filme começa a ficar pasteurizado demais, produto demais. Ser produto não é ruim, ainda mais quando isso faz parte da essência do objetivo do filme: vender-se. Os Bradescos e afins da vida não me incomodaram tanto quanto o final, onde os idealizadores-retratados não resistiram a uma “participação especial”. Onde a auto-louvação surge redentora, mesmo que pareça sincera, justificada e merecida. Onde o esforço para dar mérito ao filme diminui. Onde o longa dá sua reviravolta: revela que foi feito para fãs. Onde o filme perdeu uma estrela.

2 Filhos de Francisco EstrelinhaEstrelinha½
[2 Filhos de Francisco – A História de Zezé di Camargo e Luciano, Breno Silveira, 2005]

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