O Clã das Adagas Voadoras (2004), de Zhang Yimou.
Rever o filme me fez gostar menos dele. Os maneirismos do roteiro são os mesmos do fake Herói e a abstração visual tenta escondê-los. A fotografia é, sim, bonita, mas apela tanto para efeitos visuais incríveis, no sentido literal da palavra, que perde sua força. Milimetricamente calculado, provoca certa sensação de desconforto. Caiu muito. A musiquinha cantada por Zhang Ziyi já tem vaga nos meus votos para o Alfred, mas sua versão em inglês, com cantora lírica e tudo, ficou bem breguinha.
Doze Homens e Outro Segredo (2004), de Steven Soderbergh.
Muito melhor do que o primeiro quando se olha para os diálogos, que parecem saídos de um filme de Tarantino, misturando referências de cultura pop. Todos os atores têm um timing invejável e Julia Roberts se sai muito bem numa autoparódia deliciosa. A trilha sonora é especial, boa e bem empregada. A explicação final, em forma de reviravolta, é que deixa alguns buracos chatos, mas o filme é muito bom.
Horizonte Perdido (1937), de Frank Capra.
Parece ser o pior filme de Capra, talvez por ser o mais pretensioso. Na ânsia de criticar (ou não?) um modelo autoritário disfarçado de democracia plena, o diretor se afastou de muitos de seus pequenos clichês que resultaram muitas vezes em filmes especiais. Não há espaço para a comédia, que sempre foi fundamental para Capra compor suas operetas de exaltação pessoal, e também não há timing. O filme, bem longo, parece não querer acabar, mas deveria. A cópia tenta restaurar a metragem original do filme, 132 minutos, mas como muita coisa já havia sido perdida, optou-se por cobrir trechos do aúdio original com imagens congeladas. Estranho já que muitas destas cenas eram dispensáveis.
O Milagre de Berna (2004), de Sonke Wortmann.
Bem bonitinho apesar de não ir muito além disso. Uma cena muito boa é a que uma pelada jogada por meninos é mostrada com o áudio de uma partida oficial da seleção alemã durante a copa do mundo. Não sei o que há de real na história do filme, mas ela funciona bem apesar do clima de redenção do final. A direção de arte e a trilha são o melhor.
Sob o Domínio do Mal (2004), de Jonathan Demme.
Demme atualizou a trama do filme de 1962 e, apesar de não ter o imenso talento de John Frankenheimer, conseguiu reprisar o clima claustrofóbico e perturbado do original. Falou-se muita da atuação de Meryl Streep, muito bem mesmo, mas Liev Schreiber, em grande momento, e o próprio Denzel Washington, desconstruindo sua imagem de homem forte, também merecem crédito.