A luz é para todos

De uns tempos para cá, o documentário mudou de formato. Ganhou um tom mais opinativo e não está mais preso à narração em terceira pessoa que, de certa forma, reduzia sua capacidade de discurso. A Pessoa é para o que Nasce, longa de estréia de Roberto Berliner, segue essa nova fórmula, mas distorce a manipulação que faz da história. Ao contrário de um Michael Moore, por exemplo, que entrega suas próprias leituras para o espectador ou de um Paulo Sacramento, que se despe da condição de autor solitário para partilhá-la com seus próprios personagens, Berliner conduz o filme a partir da intervenção.

Em todo momento, ele interage com as irmãs Maria, Regina e Conceição, as “ceguinhas de Campina Grande”, ressaltando a existência de um filme em construção. É o impacto disso que dá foco ao documentário. Como conseqüência, ele perde ares de verdade absoluta e assume sua condição parcial, de experiência compartilhada. Por isso, na melhor cena do filme, quando o próprio diretor entra em quadro para explicar a diferença e entre amor e amizade, A Pessoa é para o que Nasce assuma uma postura tão pouco definitiva e, por isso, próxima.

Apesar de trabalhar com personagens tão magnéticas, Berliner as usa, mas não as explora para vender sua cria. O único momento que parece invasivo, desnecessário e gratuito é o da nudez. Sem sentido. Mas o filme vai bem além disso. Parece bem honesto ao impor sua interferência. O envolvimento emocional da equipe com as protagonistas cria uma intimidade rara.

A PESSOA É PARA O QUE NASCE
A Pessoa é para o que Nasce, Brasil, 2005.
Direção: Robert Berliner.
Roteiro: Maurício Lissovsky.
Elenco: Maria Barbosa, Regina Barbosa, Conceição Barbosa, Dalva Barbosa, Gilberto Gil, Roberto Berlinger.
Fotografia: Jacques Cheuiche. Montagem: Leonardo Domingues. Música: Hermeto Pascoal. Produção: Jacques Cheuiche e Leonardo Domingues. Site Oficial: A Pessoa é para o que Nasce.

MADAGASCAR
Madagascar, Estados Unidos, 2005.
Direção: Eric Darnell e Tim McGrath.
Até a cena da partida dos bichos no navio, sinceramente achava que o filme estava sendo atacado em excesso, mas, a partir daí, tudo mudou. As boas idéias (na verdade, boas piadas isoladas) simplesmente desaparecem depois que os quatro protagonistas chegam á ilha. Na primeira parte, há momentos engraçados, como a referência a Os Embalos de Sábado à Noite (John Badham, 1977), a participação dos pingüins e toda a seqüência na estação central de Nova York. Depois, ganha um ritmo ruim, com gags pouco criativas e se revela o maior problema: qual era a história, afinal?

nas picapes: Silent Sigh, Badly Drawn Boy.

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