O Gigante de Ferro

Os filmes de animação mudaram muito nos últimos anos. Como era preciso modernizar os desenhos para inseri-los no mundo pop dos dias atuais, a obviedade dos contos de fadas passou a ser driblada e as referências viraram obrigatórias. Fazer filmes cada vez mais inteligentes se transformou no principal desafio de quem trabalha com a animação, o que resultou em longas riquíssimos, como South Park (99), A Fuga das Galinhas (00) e o mais radical de todos, Shrek (01). Mas apesar da inegável qualidade destes filmes, uma coisa parece que foi relegada a segundo plano no novo conceito de animação: a doçura.

Qualquer tentativa de fazer um filme com resquícios de delicadeza virou pecado mortal no cinema moderno. Velocidade, citações e variações plásticas derivadas da tecnologia ganharam mais importância, em detrimento da simplicidade. Grande parte desta mudança no conceito atual de animação deve-se, sobretudo, à própria crise criativa dos longas tradicionais, sobretudo os da Disney, a major favorita da criançada. Fazer um filme inteligente e emotivo parecia contraditório. As apostas do estúdio na segunda metade da década passada foram frustradas, exceto pelos longas da Pixar. Mas é justamente de onde surgiu o motivo da crise (os estúdios concorrentes) que surgem os exemplos do quão bom pode ser um filme simples.

No ano passado, o exemplo foi o longa A Era do Gelo, de Chris Wedge, com co-direção do brasileiro Carlos Saldanha, feito nos moldes clássicos da Disney fora do estúdio. Mas algum tempo antes já existia O Gigante de Ferro. O filme de Brad Bird não chegou a passar nos cinemas brasileiros, apesar de um lançamento no Animamundi de 2000. Erro crasso da equivocada distribuição nacional. Bird, com a história simples de um robô gigante encontrado por um garoto, fez uma obra-prima da simplicidade e da beleza. Os traços clássicos remetem ao que a Disney fazia até os anos 60, mas, ao contrário dos contos de fadas que viravam roteiro para a turma do Mickey Mouse, O Gigante de Ferro aposta no realismo, no naturalismo.

Falar sobre as coisas pequenas sempre é complicado. Difícil mesmo. Falar de amizade sem cair na pieguice, então, quase impossível. O filme de Brad Bird disserta sem fazer discurso não apenas sobre amizade, mas sobre a delicadeza, que muitas vezes é o que falta na vida e no olhar que as pessoas têm do mundo. O Gigante de Ferro conversa com as crianças de igual para igual, abdicando do recurso fácil da linguagem e videoclipe e da violência. Doce, terno, simples e principalmente puro. Como tem que ser.

O Gigante de Ferro
The Iron Giant, EUA, 1999
Direção: Brad Bird.
Elenco: Eli Marienthal, Harry Connick Jr., Jennifer Aniston, Cloris Leachman, Vin Diesel, James Gammon, Christopher McDonald, John Mahoney, M. Emmet Walsh.
Roteiro: Tim McCanlies, inspirado na história de Brad Bird, baseado no livro de Ted Hughes. Produção: Allison Abbate e Dês McAnuff. Fotografia: Steven Wilzbach. Edição: Darren T. Holmes. Desenho de Produção: Mark Whiting. Música: Michael Kamen.

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