Todo mundo que merece respeito encontra razões para ter um ou dois ou vários bons guilty pleasures, aqueles filmes que não são lá grande coisa, mas que são tão divertidos que seus problemas ficam menores. Parecia ser o caso de O Destino de Júpiter. Kitsch não define o longa como a hiperbólica opereta espacial dos irmãos Wachowski merece. Para acompanhar a grandiosidade da trama do filme, Andy & Lana – aqui jaz Larry – elevaram o conceito de cafona a um nível épico, universal, interestelar. Até aqui, nenhum problema. A comparação mais próxima seria com Guardiões da Galáxia, um filme que equilibra muito (anos-luz) melhor o humor e as liberdades do que o novo trabalho dos criadores de Matrix. Este, além de ultrapassar e muito as fronteiras do bom gosto encontra uma inconsistência fundamental no tom que nunca se define muito bem. A lista abaixo traz os dez maiores erros do filme, em ordem decrescente:
10 Protagonista engole qualquer uma
Para quem recentemente descobriu a existência de aliens e que tem um novo papel no universo – papel de destaque, por sinal -, Jupiter, a mocinha vivida por Mila Kunis, personagem principal do filme, aceita essa nova realidade muito facilmente. A resistência dura até a segunda explicação de seu herói. E isso acontece o filme inteiro. Não precisa fazer ser sisudo, como manda a regra atual da fantasia, mas seria bom dar a chance para o espectador comprar a ideia.
9 Mocinho gato por lebre
O filme inteiro anuncia que Caine Wise, papel de Channing Tatum, pode explodir a qualquer momento, mas ele nunca explode de verdade. Sua “natureza/origem” de homem-lobo meio albino, é muito mal explicada e nunca é verdadeiramente explorada pelo roteiro, que prefere abrir espaço para o ator exibir o tórax no melhor estilo das novelas do Carlos Lombardi. Talvez a ideia fosse fazer um teaser da parte 2 de Magic Mike.
8 Shakespeare de araque
As intrigas palacianas dos três irmãos malvados parecem saídas de uma versão pocket de algumas das peças de William Shakespeare, mas além das performances rasas de Douglas Booth, Tuppence Middleton e Eddie Redmayne, a quem voltaremos ainda neste texto, o filme não tem a mínima competência em aprofundar ou oferecer os bastidores desta disputa do trio pelo poder. Algumas soluções são tão apressadas que tiram qualquer nuance da trama.
7 Tecnologia usada para tapar buracos
A lei do mínimo esforço aqui é: vamos colocar tudo na conta do avanço tecnológico. Então, do mesmo jeito que vimos em tantos outros filmes, as feridas cicatrizam rapidinho no longa espacial dos Wachowski. Mas aqui eles fazem isso em larga escala: Chicago é reconstruída em algumas horas, culpa da tecnologia, e ninguém vai lembrar de nada (porque é mais fácil assim), culpa novamente da tecnologia e da preguiça em ter que cuidar de mais um elemento na trama.
6 Kitsch tem limite
Tudo é exagerado no filme, sobretudo seu visual. Se fosse num conceito série B como aquele Os Vingadores do final do anos 90, com Raplh Fiennes e Uma Thurman, filme ruim, mas muito bem cenografado, tudo bem, mas os delírios visuais dos diretores são muito cansativos. Em se tratando de embalagem, o novo longa está muito mais próximo de A Viagem do que de Matrix.
5 A indefinição do tom
Afinal, o que é O Destino de Júpiter: uma aventura rocambolesca espacial ou mais um besteirol americano? O filme não se define quanto ao tom e enquanto o espectador faz esforço para entrar na brincadeira, os Wachowski chegam com aquela sequência de burocarcia interestelar, que mais parece uma versão revista e ampliada da mesma ideia que Tim Burton teve em Os Fantasmas se Divertem. Precisava daquela piadinha da Mila Kunis no fim dessa parte do filme?
4 Efeitos visuais que não impressionam
Cada milímetro de O Destino de Júpiter tem intervenções digitais, mas praticamente nada é marcante plasticamente no filme, à exceção das botas voadoras, que não bem uma novidade, mas que garantem as cenas mais bem resolvidas do longa. Os cenários digitais são óbvios, sem imaginação, preguiçosos mesmo. O general réptil do vilão parece uma versão CGI do Escamoso, dos Thundercats.
3 As soluções fáceis
A cena dos óvulos e a sequência do casamento são exemplos de como o roteiro dá saltos no espaço-tempo e perde momentos importantes que ajudariam a desenvolver a história. Tudo apressado demais. O que acontece com Kiza, filha da personagem de Sean Bean na hora da invasão da casa? A explicação para o início da destruição do planeta de Balem é boba e quebra o barato de quem tenta acompanhar a trama.
2 O destino de Júpiter
Mais uma prova da preguiça do roteiro: a solução encontrada para a personagem de Mila Kunis é a mais óbvia e a menos crível possível. O sacrifício que a protagonista faz pela família não casa com o que o universo reserva para ela nos próximos tempos. Novamente, o espectador se sente enganado pela “ingenuidade” da trama, que parece querer homenagear um subgênero sem adaptá-lo aos dias de hoje.
1 Eddie Redmayne
Está muito claro que o ator que pode ganhar o Oscar por viver Stephen Hawking no burocrático A Teoria de Tudo quis entrar no clima de ópera espacial e construir uma personagem caricata em trejeitos e tom de voz. Parecia o caminho certo, mas Redmayne não faz apenas uma caricatura, ele apenas reprisa uma porrada de tiques que não acrescentam nada e, por sinal, só desmerecem o papel de vilão principal do filme; papel que merecia ser bem menos raso.
O maior pecado do filme, no entanto, é que a combinação de suas liberdades criativas, seus exageros, seu tom fora de tom, suas caricaturas poderiam fazer um filme delicioso de assistir, mas no final da sessão, cara, no IMAX, a palavra anódino fazia muito sentido.
O Destino de Júpiter ½
[Jupiter Ascending, Andy Wachowski & Lana Wachowski, 2015]
Chico, você chegou a ler a crítica do Hessel no Omelete? Concordo com muita coisa do que ele escreveu. Abs!
Chico concordo com a critica mas acho que a interpretação de Redmayne foi irônica e condizente com a porcaria do roteiro , preste atenção que é proposital deixar o vilão raso!
seu chico adora essa palavra Anódino =P
Chico, revi Birdman pois não me conformei por não ter gostado deste filme.Nesta segunda vez acabei adorando o filme.Talvez não tinha gostado por causa de um dia ruim ou por ter assisitido legendado.Prefiro assisitir filme legendado,mas acho cópia dublada num filme cheio de diálogos e ideias como este me deu a visão real da obra. Já O Jogo da Imitação que eu havia achado bom,perdeu um pouco na revisão.Trocaria a interpretação do Beneditc Cumberbach pela do Jake Gyllenhall fácil.
Jake tá bem melhor.
O comentário serve pra defender sua posição em relação ao filme ou para atacar o crítico?! Me desculpe Wander, mas quem me pareceu uma pessoa amarga foi você. Seja mais leve, não ataque as pessoas só por terem uma opinião divergente da sua. Fica a dica!