Embora isso já venha sendo esboçado desde o terceiro filme, pela primeira vez um longa estrelado pelo agente secreto Ethan Hunt cria uma real noção de família. Em Missão: Impossível – Nação Secreta, o grupo liderado pelo personagem de Tom Cruise está acompanhado por três de seus parceiros em filmes anteriores: Ving Rhames, em seu quarto protagonismo, volta ao elenco principal depois de uma ponta em Protocolo Fantasma, Simon Pegg embala sua terceira participação e Jeremy Renner aparece pela segunda vez na equipe. O resultado tem dois lados bastante distintos: se revela uma vontade de estabelecer links emocionais para com o espectador, o que cria uma identidade para a série e potencializa a arquitetura dramática dos roteiros, também se afasta da ideia de Hunt como herói solitário, que muda seu time – e consequentemente dá novo frescor à franquia – a cada novo capítulo de suas missões.
Christopher McQuarrie, diretor de Jack Reacher e roteirista de No Limite do Amanhã, ambos estrelados por Cruise, assume o comando e parece obstinado em manter a classe dos dois longas anteriores, que procuram equilibrar cenas de ação de um gigantismo cada vez maior com a elegância dos filmes de espionagem clássicos. Em seu favor, um protagonista cujos tiques e maneirismos amadureceram junto com ele e que transformou o que era canastrice num sarcasmo sob controle. Outro trunfo é a melhor Hunt girl da série, a sueca Rebecca Ferguson, com apenas cinco títulos no currículo, que defende com segurança o papel da inglesa que dá novo sentido à expressão “agente duplo”, o que só ajuda McQuarrie a construir um roteiro mais intrincado, com reviravoltas muito bem amarradas para impulsionar à trama em vez de se resolverem em si mesmas.
De certa forma, este novo filme recupera algo do estilo que Brian De Palma impôs ao longa que inaugura a série porque explora com bastante categoria o jogo político e as intrigas palacianas tão caras a este universo. A sequência da ópera é um bom exemplo de como criar uma coleção de cenas de tirar o fôlego sem deixar de ser sofisticado, respeitando tanto a métrica quanto explorando o cenário (embora o resultado não tenha o peso da meia hora final de O Poderoso Chefão – Parte III, por exemplo). Ao mesmo tempo, fica clara a proposta de Cruise de criar uma unidade maior entre os filmes desde Missão: Impossível III, trazendo a linguagem dos filmes de espionagem para outro universo com regras específicas, o dos blockbusters de ação. O casamento é bastante feliz nas sequências do avião, da masmorra, da ópera, do tanque e do primeiro-ministro, mas entra em crise pouco antes da resolução do filme.
É aí que o conflito entre o filme de espião, em que a missão está acima de tudo, se choca com a ideia de filme de grupo, em que as relações entre as personagens estabelecem necessidades específicas para o roteiro e a história ganha rumos sentimentais que ora humanizam a trama, ora a deixam em segundo plano. McQuarrie consegue resolver o problema, criando uma solução bem interessante para a velha questão de “o que fazer com o vilão”, mas poderia ter pensado numa maneira mais criativa para valorizar a melhor personagem do filme que não passasse por Nessun Dorma. Não que esses deslizes prejudiquem o resultado final. Num mundo de filmes comerciais com pouco cérebro, a nova aventura da IMF, é um bálsamo muito bem vindo, uma análise complexa – árida, mas não desesperançosa – de conceitos como lealdade e parceria.
Missão: Impossível – Nação Secreta ½
[Mission: Impossible – Rogue Nation, Christopher McQuarrie, 2015]
Belo exemplar de filme de verão onde esperamos menos e recebemos mais. Nada mal ter um trama minimamente amarrada e personagens interessantes em meio a um tiro e outro. No balanço do verão americano este ano foi mais que positivo, alem deste filme tivemos Mad Max, Homem Formiga e Jurassic Word todos gratas surpresas.
O Jurassic Word nao tinha nem corretor ortografico ainda
Gostei muito do filme,
assistir com minha esposa e não me arrependo, assistirei o próximo!
Chico,
Se em Casablanca o dilema de Rick é entre a virtude e o amor, com vitória da primeira, nesse Mission Impossible de Ilsa Faust e roubo em Casablanca não há dilema para Hunt: desde o início ele sabe que a lealdade aos colegas (amor) constitui a capacidade de desempenhar uma missão – sua virtude.
Daí, nem sequer vacilar quando Lisa Faust propõem: fugirem juntos e esquecerem tudo, pois sempre haverá outros Ethans e Ilsas.
Faz sentido?
abs,
João
Muito bom.
Achei bem legal o incidente com o Kremlin ser citado e, por um breve instante, achei que o chaveiro do pé de coelho na sequência em Londres teria conexão com o artefato do terceiro filme (mas era só um mero detalhe mesmo). E sim, concordo com você Chico, toda a parte da ópera é de tirar o fôlego!
Assisti o filme e achei o filme muito bom com um enredo interessante, dos demais pra mim foi gratificante ver os personagens atuarem bem.
nota 8.
sem mais