Eu começo a duvidar das possibilidade de se fazer um filme gay cotidiano realmente significativo e inteligente. Weekend, de Andrew Haigh, extremamente elogiado e premiado no ano passado, parecia vir para ocupar esta vaga, mas o que eu vi foi apenas uma tentativa.
O longa é cheio de boas intenções, mas vende o mesmo universo gay de que tenta fugir. A sensibilidade do personagem principal se perde numa postura antiga em relação a, digamos, problemática gay. Não seria necessário algo mais do que não retratar os personagens como bichinhas afetadas?
As questões são velhas, o discurso é ingênuo e o filme gira em círculos e reprisa o clichê do retrato do homossexual no cinema. Talvez, o filme coubesse mais se tivesse sido lançado no fim dos anos 80. Difícil ter saco para DRs sobre “saídas do armário” em 2012.
Plasticamente, o filme ataca para vários lados. A câmera naturalista cede espaço para takes que parecem saídos de um filme do Wes Anderson e, claro, cenas de sexo com muito áudio ambiente. Impressionante como os cineastas que tentam fazer um filme gay “com conteúdo” sempre jogam o sexo com condutor da narrativa. A questão não é omiti-lo, mas conseguir relativizá-lo no dia-dia dos protagonistas.
Este filme parece querer fugir do estereótipo, mas por trás do excesso de discussão existe o reforço do clichê.
Weekend ½
[Weekend, Andrew Haigh, 2011]
Ricardo, o clichê a que me refiro é o da impossibilidade do romance entre os personagens, mas também serve para o reforço que o filme da à ideia de que os gays, até os que mais têm a dizer, sempre se refugiam no submundo.
“Difícil ter saco para DRs sobre “saídas do armário” em 2012.”
Será? A gente ta se encaminhando pra isso – um esgotamento do assunto -, mas ainda é bastante difícil sair do armário em 2012, portanto, ainda acho relevante sim levantar essa questão.
“A questão não é omiti-lo, mas conseguir relativizá-lo no dia-dia dos protagonistas.”
Talvez aqui o que faltou foi tu assistir ao filme como a história desses dois personagens e não como “um filme gay”. Se tu der uma recapitulada no cinema “com conteúdo” dos últimos anos vai perceber que existem bastantes “filmes héteros” que também utilizam o sexo como condutor da narrativa. O que muda aqui é que são dois homens.
Sinceramente não consegui entender que clichê é esse que tu diz que o filme reforça. Acho que pelo contrário, ele apresenta personagens que condizem bastante com a realidade, diferente do modo que a gente sabe que gays têm sido retratados no cinema .