Brad Pitt, Jessica Chastain

Um dos maiores desafios desta vida é escrever sobre um filme de Terrence Malick. Os riscos são imensos: 1) pode-se cair na bobagem de querer explicar o trabalho do diretor, o que soa arrogante e deve ser mentiroso mesmo porque ele usa tantos simbolismos que as interpretações podem ser genuinamente múltiplas; 2) pode-se ainda encher linguiça e escrever um texto sobre nada, usando frases feitas, expressões genéricas e cair no ridículo; 3) pode-se soar elitista ou reacionário ao dizer que o filme é feito para poucos e sugerir que as pessoas que não o “entenderem” podem ficar tranqüilas, elas não estarão sozinhas.

Então, vou tentar seguir um caminho do meio para tentar explicar o porquê de eu ter gostado tanto de um filme de que eu me considero incapaz de se absorver por completo, principalmente tendo-o visto uma só vez. Porque A Árvore da Vida é, mais do que qualquer outro filme de Malick, sobre o impalpável. Se nos trabalhos mais recentes do diretor, sempre havia um contexto histórico que situava o espectador, como a guerra ou a tomada da América, agora o cenário não ajuda a traduzir a trama.

Tudo é mais subjetivo do que nunca. A certa altura de seu mergulho na história íntima de seu protagonista, o diretor parece perguntar: do que é feito um ser humano? Onde começa uma pessoa? O que nos transforma em quem nós somos? Malick não se impõe limites para examinar estas questões, mas sabe que não existem respostas exatas para cada uma delas. Ele vai onde poucos ousariam e de onde muitos menos ainda conseguiriam voltar com dignidade. As discussões que ele levanta levam o espectador ao princípio da construção do próprio homem e da Humanidade, assim mesmo, com H maiúsculo.

É preciso estar bastante disposto para usufruir de seu projeto porque o caminho escolhido para isso é repleto de simbolismo e de filosofia. A referência inicial para as questões levantadas foi a religião, mas Malick parece tocar em conceitos ainda maiores do que Deus, como “pai”, “mãe”, “irmão”, nos sentidos mais simbólicos e abrangentes dos termos. A fé surge depois disso.

O incômodo que consome o personagem parece buscar o que está nesses imensos hiatos entre cada uma destas definições. Por isso mesmo, essa jornada do protagonista pode parecer etérea, vazia, simbólica demais para muita gente. A medida da probabilidade do público se decepcionar com A Árvore da Vida é diretamente proporcional ao número de pessoas que vai ao cinema para ver a um filme de Brad Pitt ou Sean Penn.

Pitt, por sinal, está muito bem como o pai bruto e emocional, mas a maior atriz do filme é Jessica Chastain, cuja presença fantasmagórica ganha contornos líricos.

O intangível tem seu ápice na seqüência em que o diretor decreta a abolição da narrativa convencional e segue por uma sucessão de imagens cuja única referência possível é Kubrick em 2001. A seqüência final desperta muitas interpretações, mas a intenção não me parece ser se posicionar, muito menos tecer um tratado ou revelar uma visão. No fim de seu filme, Malick talvez tente encontrar um desfecho para o desenho que ele propõe. O desenho de como se forma um ser humano.

A Árvore da Vida EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[The Tree of Life, Terrence Malick, 2011]

Comentários

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9 comentários sobre “A Árvore da Vida”

  1. Preciso. Concordo do ínicio ao fim.

    Assisti ao filme no Dia dos Pais, com meu pai. Uma catarse. Naquela cena em que o pai escroto e humano, conversa com o filho admitindo seus erros, é furiosa. A paternidade é um crime.

    Beijo!

  2. A grande quantidade de poesia no filme não me emocionou como algumas poucas cenas poéticas presentes em O NOVO MUNDO (o texto em off nas cenas do campo) e ALÉM DA LINHA VERMELHA (as cenas da praia). Mas em compensação, achei a narrativa deste último mais redonda (e menos forçada) que nos outros dois. Achei um belo filme para ser revisto muitas vezes.

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