Elle Fanning, Kyle Chandler, AJ Michalka

Super 8 é um filme perdido no tempo. É retrô porque quer e porque somente poderia ser assim. Se fosse situado nos dias de hoje, essa aventura infanto-juvenil pediria tantos gadgets tecnológicos que a história ficaria em segundo plano. J.J. Abrams acertou. “Refez” um filme clássico de Steven Spielberg. Super 8 é E.T. elevado à enésima potência. Os Goonies elevado à enésima potência.Contatos Imediatos elevado à enésima potência.

Não é por acaso que Spielberg assina a produção do longa. Ele certamente entregaria um filme muito parecido com este caso estivesse atrás das câmeras. Em Super 8, J.J. Abrams segue duas regras básicas na cinematografia de seu produtor: respeitar a fantasia e a imaginação e tratar as crianças como crianças, sendo fiel a sua idade, mas sem duvidar de sua capacidade.

A essa fórmula mágica, o diretor adiciona sua paixão por cinema em forma de metalinguagem: transforma a turma que protagoniza o filme em pequenos cineastas e coloca frases incríveis nas bocas deles. O diretor-mirim pede diálogos de amor mais densos para o “astro” da produção e a personagem de Elle Fanning é uma “natural”. Sua cena de estreia é um assombro: me fez lembrar de Naomi Watts na audição para o papel em Cidade dos Sonhos. [Por sinal, o curta que eles rodam passa na íntegra durante os créditos do filme. E é sensacional].

Mesmo reciclando Spielberg, J.J. Abrams não abre mão de seu próprio arsenal de truques. A cena do acidente com o trem, que deixou a plateia com as bocas abertas durante os minutos que parecem intermináveis, parece uma versão ferroviária da queda do avião de Lost. Além da plástica perfeita, o desenho de som dessa seqüência é exemplar e reafirma o diretor como herdeiro direto de Spielberg na criação de cenas tensas. Michael Bay deve estar se contorcendo de inveja em algum lugar.

Sem fazer muito esforço, o cineasta administra bem sua fantasia, elabora seus personagens com cenas bonitas como a da maquiagem e ainda perde tempo com detalhes que só fazem sofisticar o resultado. O desfile de referências é discreto. J.J. não faz muito alarde: embute seu repertório pop no meio das cenas. De George A. Romero ao Monstro da Lagoa Negra. De Lost a O Hospedeiro.

No entanto, apesar de acertar tanto, Abrams parecia não ter encontrado um laço forte o suficiente para fechar o pacote de sua experiência spielberguiana. E quando eu achava que ele havia falhado justamente onde Spielberg é mais talentoso, na construção dos momentos emocionais, na universalização do drama, J.J. me vem com aquela cena do cordão, que amarra a seqüência de reencontros, resolve uma lacuna do protagonista e abre caminho para o encerramento da história. Ali, a emoção cresce a um proporção gigante. Do tamanho de uma nave espacial. Do jeito que Spielberg gostaria. Super 8 parou no tempo… no tempo certo.

Super 8 EstrelinhaEstrelinhaEstrelinha½
[Super 8, J.J. Abrams, 2011]

Comentários

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2 comentários sobre “Super 8”

  1. Poxa Chico, legal ler essa sua critica do Super 8… engraçado que ontem vi o vi filme e tive a impressão mesmo de estar vendo um Goonies da nova geração… ate postei no meu face ontem e hj vendo q vc tbm fez a mesma comparação me deixa mais feliz ainda.
    Chato mesmo é ver pessoas jovens reclamando, falando que o filme é fraco. Quais são os valores dos filmes de hoje alias?!
    Boa critica… acompanho sempre mas só hoje resolvi comentar.
    Abs

  2. Chico, fui ver esse filme porque minha irmã caçula (17 anos) quis (ela cursa Radio & TV). E me surpreendi com o quanto adorei. Dá pra perceber de leve a pieguice de Spielberg em algumas coisas, mas como um todo o filme é bem bacana. Chorei de soluçar na cena em que Ella Fanning e o garotinho estão vendo um gravações caseiras com a mãe dele (minha mãe morreu quando eu tinha 7 anos) – me emocionei muito.

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