A cinefilia do Brasil perdeu hoje um de seus maiores incentivadores. Leon Cakoff, criador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, morreu no começo da tarde, vítima de um câncer que o atormentava havia alguns meses. A notícia triste chega exatamente uma semana antes do início da trigésima edição do evento, de cuja preparação Cakoff se manteve distante.

A persona controversa de Cakoff não diminui sua importância. A Mostra foi o primeiro evento do gênero no país e abriu espaço para que filmes de etnias e formatos diferentes pudessem ser vistos pelo público paulista e brasileiro. E digo mais: a Mostra ajudou a formar público. Se hoje São Paulo – e o Brasil – tem um circuito para a exibição de um cinema mais alternativo, a Mostra tem uma bela parcela de culpa nisso.

Cakoff foi um herói, um pioneiro. Batalhou até o fim para manter o festival.

Foi a Mostra exibiu pela primeira vez no Brasil filmes icônicos como Asas do Desejo, de Wim Wenders. Foi a Mostra que revelou para o espectador brasileiro os cinemas de Manoel de Oliveira, Abbas Kiarostami, Aleksandr Sokurov e Amos Gitaï. Entre muitos outros. Foi a Mostra que inspirou a criação do imenso circuito de festivais de cinema que existe hoje no Brasil.

E Cakoff, como seu mentor, foi o responsável-mor por este movimento nos últimos 35 anos. Até porque seu caráter centralizador praticamente inviabilizou a divisão dos trabalhos no festival, o que gerou uma série de dificuldades e atrasos na evolução da Mostra enquanto evento. Até alguns anos atrás, não se aceitava qualquer cartão na compra dos passaportes. As filas eram gigantescas. A programação até hoje só é liberada às vésperas do festival.

A notícia da doença, descoberta em dezembro do ano passado, abalou o processo de realização da Mostra deste ano. Os represtantes do festival não circularam pelos festivais internacionais garimpando títulos e, por decisão do próprio Cakoff, segundo sua esposa e maior parceira no comando da Mostra, o festival deste ano só exibirá filmes estrangeiros inéditos no país. Uma decisão cruel para os cinéfilos de São Paulo e de fora do estado que dedicam as duas últimas semanas de outubro para um mergulho no cinema mundial.

Com essa decisão, pela primeira vez em muito tempo um filme de Pedro Almodóvar, para se manter em um exemplo apenas, não será exibido na Mostra.

Com a morte de Cakoff, fica uma pergunta: qual o futuro da Mostra de Cinema de São Paulo? Sua mulher tomará para si o posto de herdeira do criador do festival? Haverá energia, disposição e jogo de cintura suficientes para que transformar um festival que sempre esteve centrado na figura de um homem só se torne uma criação de muitos? A despedida de Cakoff, além da tristeza pelo fato em si, pode ter implicações ainda maiores. Os cinéfilos brasileiros certamente esperam que a maior herança de Leon Cakoff permaneça em cartaz por muito tempo, honrando a memória de seu idealizador.

Comentários

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3 comentários sobre “Leon Cakoff”

  1. Vai se o homem fica o legado.
    Agora é esperar pra ver se os familiares e colegas continuam conduzindo um dos eventos mais legais da cidade com o olhar diversificado de Leon.

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