George Clooney, Shailene Woodley, Nick Krause

A sensibilidade tem tantas variações que seria mais justo falar em sensibilidades. Os elementos, temas ou modelos que fazem alguém se encantar com uma história podem mudar completamente, de acordo com o ponto de vista. A bagagem que o receptor carrega é fundamental para determinar se uma obra vai ter algum efeito sobre ele. Alguns podem se deixar levar por histórias de superação ou manifestações de coragem. Outros podem se arrebatar por narrativas de solidão ou que invadam o terreno da memória.

O drama familiar sempre foi um gênero cinematográfico que teve bastante efeito sobre mim. Talvez pela maneira íntima como minha família funciona, talvez pela distância dos meus parentes. O fato é que histórias de família, bem contadas, podem ser facilmente capazes de me arrebatar. E foi exatamente isso que eu encontrei em Os Descendentes, filme de Alexander Payne que navega por mares muito antes navegados como morte de um ente qierido, traição e ausência paterna, mas que faz isso com uma sensibilidade que para mim se mostrou rara.

Payne é conhecido pela melancolia crônica de seus filmes, sobretudo os dois anteriores, As Confissões de Schmidt e Sideways, e esse estado de espírito, geralmente associado a um jeito de fazer cinema indie, em suas obras, sempre me pareceu espontâneo e verdadeiro. Os Descendentes sofre do mesmo “mal”, mas a desilusão em que seus personagens estão mergulhados me parece muito mais real. A tristeza não está no visível, mas naquilo para o qual não se tem definição.

A angústia do protagonista é por ver sua vida escapar para todos os lados. Nesse ponto, é impressionante que um ator apenas correto na área dramática como George Clooney segure um personagem tão complexo e com tanta competência. Em vez de pesar a mão na decadência emocional deste homem, Clooney se aproveita dos vazios para atuar e nos oferecer aquela que talvez seja sua melhor interpretação. Shailene Woodley, injustamente ignorada pelo Oscar em sua estreia no cinema, também chama a atenção com a delicadeza de sua performance num papel muito mais difícil do que qualquer uma das atrizes indicadas neste ano.

É fato que esta distância que Payne impõe entre os personagens pode também chegar ao espectador. É fato que as músicas havaianas que permeiam o filme deixam o clima ainda mais confuso. É fato que a ironia, outra característica de Payne, também está presente e transforma cenas que poderiam migrar para o clichê em conversas estranhas que parecem fora do contexto, mas que dizem muito sobre onde o filme quer chegar. Qualquer cena com o brilhante Nick Krause entra nesta lista.

Por essas dicotomias, é fácil não se envolver com Os Descendentes. Não há catarse, não há heróis, não há vitória. Talvez seja exatamente isso que tenha conquistado a minha sensibilidade. Talvez seja isso que tenha me arrancado algumas lágrimas. Este filme me parece muito palpável em seus diálogos invisíveis, me parece muito com a vida. Nem sempre é preciso de um grande arroubo para que ela aconteça. E nem sempre é preciso que alguém concorde com você para que a sua verdade seja válida.

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[The Descendants, Alexander Payne, 2011]

Comentários

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3 comentários sobre “Os Descendentes”

  1. Virei fã do G.Clooney, até então ele só um galã que nem me agradava. Aqui ele é ator. E que ator. Quando ele corre na rua, de mocassim, louco para saber quem era o amante da mulher eu quase tive pena. Pensei: “esse cara não faz exercício há muito tempo”. Adorei o filme e o personagem, perdidão com um luto e duas filhas pela frente. Mas fica nisso, não é filme de Oscar.

  2. Oi chico! Eu não gostei tanto do filme como você, mas adorei este seu post, pois entendi perfeitamente… obrigada por compartilhar! 🙂

  3. Adorei seu comentário Chico, não há herói mas como ele era digno!!!!!!!!!!!
    foi isso acima de tudo que eu gostei e nem sou fã do George Clooney.

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