2046

Uma das principais características do cinema de Wong Kar-Wai é sua capacidade de contar uma história com um grande suporte visual. O último episódio de Eros, filme dividido em três, tem a assinatura do cineasta. É justamente ele quem salva o longa de um fracasso completo já que as duas primeiras partes seguem caminhos bem estranhos. A delicadeza, de apuro imagético e de cuidado com a temática, de A Mão é irmã do que ele faz nos últimos trabalhos. Cada imagem está lá por um motivo.

Há muitos momentos de obra-prima neste engenhosíssimo novo filme, que retoma a personagem de Tony Leung Chi-Wai em Amor à Flor da Pele (2000), o escritor que se hospeda em frente ao quarto 2046. À medida em que somos apresentados, uma a uma, a cada uma das mulheres que vão passar pela vida do protagonista, a trama se desdobra e conhecemos também a história de ficção-científica paralela que ele escreve. Para apresentá-la, Kar-Wai se esforça para criar um belíssimo conjunto de camadas de tempo e espaço em que a ação se mistura e literatura e história se confundem.

A grande sacada é como o diretor utiliza essa estrutura em favor da própria narrativa. Nada soa gratuito. O resultado poderia ficar a um passo do equívoco, da predileção integral pela literatura, mas isso não acontece porque o cineasta é um amante da forma e consegue fazer não apenas uma fotografia belísissima em cores, filtros e enquadramentos, mas torná-la essencial para a concepção geral do filme. É ela que traduz a beleza das mulheres, a inquietação do protagonista, que dita o ambiente quase onírico imposto à ação, mas que também sabe se tornar realista quando o filme assim necessita. Fotografia que consegue ser mais bonita do que a do filme anterior. Que, por mais calculada que seja, consegue captar uma certa inocência das personagens.

2046 – Os Segredos do Amor EstrelinhaEstrelinhaEstrelinhaEstrelinha
[2046, Wong Kar-Wai, 2004]

 

Comentários

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4 comentários sobre “2046”

  1. O trailer é bastante desanimador…

    Vi ontem o “Reis e Rainha”. Achei legal, mas não uma obra-prima, e não sei se entra num top 10 de 2005…

  2. olha, na primeira vez que vi, no Festival do Rio, achei bem decepcionante. revi na semana passada. achei obra-prima. o melhor filme dele, inclusive

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