Síndromes e um Século, a princípio, se apresenta com um exemplar do cinema oriental que finalmente parece genuíno ao tratar do microverso do cotidiano, dos pequenos amores, dos detalhes. Apichatpong Weerasethakul está atento a tudo e nos oferece uma lupa para descobrirmos segredos e sensações, seguindo um fluxo que corre a velocidade da vida. Mas depois de estabelecer personagense dramas, o tailandês nos explica que seu filme é sobre o mundo em construção. E, como conseqüência, é o cinema em construção.
Neste renascimento do filme, há um momento que condensa a experiência do diretor, quando numa passarela, dois grupos se cruzam, como se Weerasethakul saudasse o duplo e instalasse seu cinema num tempo zero, onde a história sempre amanhece outra vez, sempre de outro jeito. E então, numa cena casual, num momento em que nada parecia ser mais genial, meus olhos se enchem d’água quando a câmera se move e revela que a velha doutora tailandesa estava ali, me olhando, testemunhando tudo o que eu acho que descobri.
Síndromes e um Século
[Sang Sattawat/Syndromes and a Century, Apichatpong Weerasethakul, 2006]