[mostra de cinema de são paulo – boletim sete]
[electroma ]
direção: Guy Manuel de Homem Christo e Thomas Bangalter.
Electroma, 2006. Brincadeira séria do Daft Punk, com clara inspiração num cinema muito em voga no circuito alternativo, entre os anos 60 e 70, como indicam elementos como o deserto, personagens vagando e a direção de arte, retrô total. Tenta um certo hermetismo nos planos fixos, rigorosos e demorados, mas as imagens dos robôs vagando têm um tom inegavelemente pop. É um filme sobre querer se transformar e não ser aceito. Tem cenas belíssimas, mas parece ser exatamente isso, uma brincadeira séria.
Com Peter Hurteau, Michael Reich, Athena Stamos.
[the bridge ]
direção: Eric Steel.
The Bridge, 2006. Documentário precioso sobre os suicidas da Golden Gate, o local específico em que mais há registro de pessoas que tentam se matar no mundo. Durante um ano, o diretor filmou a ponte – por sinal, há muito bom gosto em se retratar o cenário; a câmera está sempre em busca de um ângulo menos óbvio e mais bonito – e registrou 20 suicídios. Vários aparecem na tela, intercalados aos depoimentos de parentes e de pessoas que escaparam dos saltos mortais. A construção da vida das pessoas a partir de suas mortes é bastante interessante. O material é rico e nunca piegas.
[belle toujours – sempre bela ]
direção: Manoel de Oliveira.
Belle Toujours, 2006. Um filme que me metia um certo medo apesar da assinatura. Por que fazer uma continuação de A Bela da Tarde? A ausência de Catherine Deneuve era algo que perturbava um pouco mais, mas os 70 minutos deste filme são uma experiência preciosa sobre a relevância das pessoas do passado em nossas vidas. O reencontro tem poucas palavras porque não há muito mais o que dizer. De certa forma, é possível fazer um contraponto bem interessante a Antes do Pôr-do-Sol, de Richard Linklater, que ganha desenvolvimento completamente diferente, mas igualmente feliz. Oliveira não abre mão de nada de sua linguagem e faz uma homenagem extremamente fiel a Buñuel.
Com Michel Piccoli, Bulle Ogier, Ricardo Trepa, Leonor Baldaque, Júlia Buisel.
[incuráveis ]
direção: Gustavo Acioli.
Incuráveis, 2006. Há uma cena em que Fernando Eiras, narrando um dos grandes amores de sua personagem, está memorável, no tom exato. Infelizmente é apenas uma cena em meio a um roteiro fraco, que parece subproduto da literatura urbana do Brasil oitentista, que ama o submundo das putas. O texto, que por vezes se escora num engenho de repetição que funciona até a segunda página, atrapalha os desempenhos pelas frases de efeito. Fernando Eiras se sai melhor do que Dira Paes, geralmente espontânea, aqui bem teatral. Uma pena porque tem um conjunto técnico excepcional: direção de arte, utilização da trilha, a melhor sonoplastia de um filme brasileiro neste ano e uma iluminação exemplar.
Com Fernando Eiras, Dira Paes, Emmanoel Cavalcanti, Luana Muniz.
[antonia ]
direção: Tata Amaral.
Antonia, 2006. Numa avaliação inicial, mais envolvida pelo clima da sessão de pré-estréia, poderia até ganhar mais uma estrela, mas, sem o calor do momento, ainda continua um filme muito bom mesmo. A câmera na mão funciona como nos melhores filmes dos Dardenne, de certa forma tentando dar conta das personagens por inteiro. Essa, inclusive, parece ser uma preocupação de Tata Amaral, que dá densidade às quatro amigas cantoras de rap. As moças, todas inexperientes no cinema, se saem admiravelmente bem, com destaque especial para Leilah Moreno, que tem cenas excepcionais. Ao invadir às vidas de quatro mulheres, a diretora faz um recorte de múltiplas dimensões da vida na periferia da cidade grande.
Com Negra Li, Leilah Moreno, Cindy, Quelynah, Thaíde.
Marfil, acho que sim. É um reencontro das personagens.
Eu acho “Fonte da Vida” muito ruim, muito mesmo.
Marcelo, realmente a câmera do”Half Nelson” exagera um pouco, mas o filme sai tão bem de suas armadilhas que eu nem levei isso em conta.
Eu vou ver o Zhang-ke no domingo, às 15h10, no Arteplex.
Chico: Eu não vi o filme do Buñuel…O prejuizo será grande se eu ver esse do Oliveira? Ontem vi “A Fonte da Vida”. Apesar dos comentários alheios, eu apreciei bastante a estoria…
Caramba, e eu morei lá e nem fui dar um pulinho da ponte…
“Belle Toujours” está meio que empatado com “Mary” na posição de melhor filme que vi nesta Mostra até o momento. A ausência de Deneuve é lamentável, mas não achei que isto tenha impedido o filme de ser uma obra-prima.
Tinha me programado para ver este “Incuráveis” no domingo, mas você me deu uma desestimulada…
Falando em câmera na mão, vi hoje o “Half Nelson” e gostei, mas achei despropositada toda aquela tremedeira da câmera, me incomodou muito e diminuiu meu prazer de ver o filme. Amanhã (hoje) vou tentar ver o filme do Zhang-Ke no Bombril.