[mostra de cinema de são paulo – boletim oito]


[un borghese piccolo piccolo ]
direção: Mario Monicelli.

Un Borghese Piccolo Piccolo, 1977. Monicelli mais ácido do que nunca, num filme que se anuncia como uma deliciosa sátira sobre as pequenas corrupções do poder público e que se transforma bruscamente. Alberto Sordi e Shelley Winters, perfeitos, em sua tentativa de conseguir um emprego para que seu filho medíocre permaneça na mediocridade, mas com um futuro garantido. Num segundo ato, depois de uma reviravolta chocante, o protagonista, já sem um objetivo, parte numa jornada em busca de uma compensação que nunca virá. Crudelíssimo.

Com Alberto Sordfi, Shelley Winters, Vincenzo Crocitti, Romolo Valli.

[os subversivos ]
direção: Paolo e Vittorio Taviani.

I Sovversivi, 1967. Ou os Tavaniani antes do pitoresco, tomando várias histórias paralelas de viúvos de um líder comunista. A vontade de revolução está no discurso, mas principalmente na forma, que assume a subversão do cinema europeu da virada dos anos 50 para os 60, sobretudo em relação à montagem. O resultado, ainda que irregular e cheio de vício de cineastas em comçeo de carreira, tem momentos fortes e é de uma perturbação constante que dá o tom exato da época.

Com Maria Cumani Quasimodo, Lucio Dalla, Ferruccio De Ceresa, Fabienne Fabre.

[transe ]
direção: Teresa Villaverde.

Transe, 2006. Teresa Villaverde tem um absoluto cuidado pela forma e, por isso, condena seu filme a uma clausura estética sem saída. Os quadros que compõe são de uma beleza invulgar, mas ficam esvaziados por sua multiplicação. É clara a preferência pela imagem, em detrimento de todo o resto, sobretudo a ação. Não que ela seja necessária, mas a culpa que a diretora parece sentir pelo movimento coloca o filme um plano estranho, distante, o plano da ditadura da forma, de que nem a boa protagonista consegue se salvar.

Com Ana Moreira, Viktor Rakov, Robinson Stévenin, Iaia Forte, Andrey Chadov, Filippo Timi, Dinara Droukarova.

[princesas ]
direção: Fernando León de Aranoa.

Princesas, 2006. Um filme menor de Aranoa, do belíssimo Segunda-Feira ao Sol, com aquela tradicional visita carinhosa ao universo das putas. O diretor-roteirista é bem feliz ao compor suas personagens, sabendo dar textura aos dramas banais e transformando eventos-clichê em material original. Mais um filme da Mostra com fotografia inquieta, mas parece que agora os operadores souberam usá-la sem exagero, na medida certa. A interpretação de Candela Peña, muito boa, condena a puta triste à liberdade.

Com Candela Peña, Micaela Nevárez, Mariana Cordero, Violeta Pérez, Luis Callejo.

[o grito das formigas ]
direção: Mohsen Makhmalbaf.

Scream of the Ants, 2006. E Mohsen Makhmalbaf, que resolveu desmitificar a Índia? A visita filosófica de um casal de iraniano ao país é a deixa para um embate entre a fé, o subjetivo, o misticismo e o o ceticismo, o objetivo, o factual, personificados na mulher e no homem, respectivamente. O problema é que, embora finja relativizar a discussão, Makhmalbaf está sempre disposto a desprezar as crenças que não são as dele, sejam religiosas ou não, geralmente travestindo esse desprezo com cores documentais para apresentar a injustiça social no país. Mesmo que essa injustiça esteja por toda parte, o maniqueísmo com que o diretor move o filme, desfazendo da religião dos outros, parece mais injusto ainda. E, cá entre nós, por que não o Irã?

Com Mahmoud Chokrollahi, Mahnour Shadzi, Karl Maass, Tenzin Choegyal.

Todos os filmes vistos na Mostra.

Comentários

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4 comentários sobre “[mostra de cinema de são paulo – boletim 8]”

  1. Vi ontem “O Cheiro do Ralo”, se “O Céu de Suely” (que ainda não vi) é o melhor filme nacional do ano, então a safra de filmes nacionais está espetacular!!! Selton Mello está soberbo como Lourenço. Vou até procurar o “Nina” para acompanhar a carreira desse diretor…

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