O SER E O NADA, NÃO

Ficção-científica investiga… não investiga coisa nenhuma

Era uma vez um cineasta que não tinha nada a dizer, mas queria muito uma coisa: ser cool. Isso era tão importante para esse cineasta que ele resolveu fazer um filme sobre nada. Mas como filmes sobre nada geralmente não são muito cool, ele teve a idéia de fazer esse filme sobre nada em forma de ficção-científica. A história (é, tem uma) se passa num futuro muito, muito próximo porque é muito mais barato para fazer. O tema é a clonagem, que é um dos assuntos do momento então, olha que legal: o filme sobre nada que se passa no futuro é factual!

No filme sobre nada futurista e factual, o diretor quer mostrar que mundo globalizado é aquele onde toda frase tem pelo menos uma palavra numa língua que não a inglesa. Si, claro, salaam, ça va. O mundo globalizado no filme sobre nada futurista e factual proíbe cruzamentos entre gente de DNAs parecidos. É que dá defeito.

Para ser o herói (ou algo assim) de seu filme, o cineasta chamou o Tim Robbins porque, mesmo sem ser um bom ator, ele faz cara de sério e triste e o povo acredita (bem, talvez isso signifique ser um bom ator). Para ser a heroína do seu filme, o cineasta que queria muito ser cool chamou a Samantha Morton, aquela dos dentes curtos e incrivelmente sexys que sempre faz moças estranhas. Neste filme, ela interpreta uma moça estranha que age contra a lei e faz caras e bocas entre o etéreo e o erótico (por ser etéreo).

O filme sobre nada futurista e factual tem narração em off. Tipo assim Blade Runner, sabe?

O filme sobre nada futurista e factual termina com um final muito triste. Toca até Coldplay pra se ter uma idéia de como o final deste filme é triste. Só não é mais triste porque o filme é sobre nada.

CÓDIGO 46
Code 46, Grã-Bretanha, 2004.
Direção: Michael Winterbottom.
Roteiro: Frank Cottrell Boyce.
Elenco: Tim Robbins, Samantha Morton, Jeanne Balibar, Om Puri, Emil Marwa, Nina Fog, Bruno Lastra, Christopher Simpson, David Fahm, Natalie Jackson Mendoza, Essie Davis, Benedict Wong.
Fotografia: Alwin H. Kuchler e Marcel Zyskind. Direção de Arte: Mark Tildesley. Montagem: Peter Christelis. Música: The Free Association. Figurinos: Natalie Ward. Produção: Andrew Eaton. Site Oficial: www.mgm.com/ua/code46.

rodapé:

O CHAMADO 2
Olha, eu gostei mais do primeiro filme norte-americano do que dos originais japoneses (onde o segundo é mais assustador que o primeiro), mas esta seqüência aqui não tem Naomi Watts que segure. Uma história tosca, que parece querer reciclar um monte de coisa, sem cenas de susto envolventes (a perseguição do poço é o que passa mais perto) e com um David Dorfman menos inspirado (no primeiro filme, ele estava ótimo). Chamar o Hideo Nakata, que dirigiu a os filmes japoneses, não teve muito efeito, além de uma vontade danada de rever Poltergeist (Tobe Hooper, 1982).

nas picapes: Every You, Every Me, do Placebo.

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