A VIDA DEPOIS DA BOSSA

Documentário é a essência do Brasil tropicalista

O fato de este filme existir deve ser muito louvado. É raro ter um registro tão puro e ao mesmo tempo tão contaminado de uma época, de um espírito. Puro porque a equipe do filme transpira tudo que está na tela. É o retrato dela mesma. Contaminado por quase o mesmo motivo: não há distanciamento, não há ponto de vista que não seja o dos retratados. Os Doces Bárbaros não tem poderes de investigação sobre seus quatro personagens, mas não há esta pretensão. É um documento – e dos mais deliciosos de se assistir – do fenômeno que foram quatro figuras que estão entre os maiores nomes da música brasileira.

O documentário se concentra na turnê que o grupo (era um grupo, enfim) fez pelo Brasil, mesclando shows, bastidores e incidentes de percurso. O maior destes foi a prisão do hoje ministro da Cultura, Gilberto Gil, por porte de maconha. Neste momento, a câmera de Jom Tob Azulay tenta dar uma de câmera jornalística e se propõe a esclarecer os fatos com um material bem farto: entrevistas com Gil, num dos momentos etéreos que o fizeram personagem, o delegado que o prendeu e o julgamento onde acabou condenado, de onde suas expressões ao ouvir acusações e vereditos são particularmente preciosas (as acusãções e vereditos não ficam atrás).

O registro de clássicos da música do Brasil em interpretações explosivas é especial apesar do amadorismo de muitas tomadas onde a câmera chicoteia ou esquece de mostrar quem canta. O momento-chave do filme é a entrevista de Maria Bethânia no camarim para um repórter sem muito tato. Impaciente, irritada e chata, a primeira das novas baianas mostra de onde vem toda a aura que existe em torno dela. De sua respostas indóceis para o teatro na interpretação de ?Um Índio?. Se aquele repórter a viu cantando aqui, ele nem ligou de receber porrada.

OS DOCES BÁRBAROS
Os Doces Bárbaros, Brasil, 1976.
Direção: Jom Tob Azulay.
Roteiro: Guilherme Araújo, Jom Tob Azulay, Isabel Câmara, Eunice Gutman e J. Saldanha.
Elenco: Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gal Costa, Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor.
Fotografia: Jom Tob Azulay e Fernando Duarte, entre outros. Montagem: Eunice Gutman e Luiz Carlos Saldanha.

rodapé:

Mas por favor, senhor sol, me dê de volta Virgínia.

nas picapes: Atiraste uma Pedra, d’Os Doces Bárbaros.

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