A internet subverte muita coisa. Uma delas é a velha máxima de que “o futuro é a gente que faz”. No mundo online, o passado também pode ser construído. Então, tal qual o Zelig de Woody Allen, estou, aos poucos, refazendo o passado deste blogue. O Filmes do Chico surgiu no dia 29 de janeiro de 2003, há dois anos e dois meses, pelo versão brasileira do Blogger. Sua segunda versão, já pelo Blogspot, teve início em março de 2003. Os posts do endereço antigo estão sendo cuidadosamente trazidos para o passado deste blogue. Preciosismo, mania de coleção. Agora, mais de dois meses depois do aniversário que eu não comemorei porque estava atolado de trabalho – pelo menos ganhei algumas horas extras -, deixo aqui a lista dos meus filmes favoritos nestes mais de dois anos de brincadeira cinéfila.

1 Elefante, de Gus Van Sant.

O grande filme da década até que surja um concorrente à altura. Van Sant espiraliza o tempo, faz as narrativas se inteferirem, desromanceia a violência. É o ser humano em processo de criação, onde não há certo nem errado.

2 Antes do Pôr-do-Sol, de Richard Linklater.

Fodam-se as expectativas. Foda-se o que poderia ser. Linklater promove um reencontro nostálgico, à base da palavra, mas sem lamentações. Tudo é simples, tudo é pequeno. Porque quer, porque é para ser assim.

3 Gangues de Nova York, de Martin Scorsese.

Bill the Butcher, o maior personagem desta década. Ele é a América, aquela que aterroriza quem está contra ela, mas que se construiu enorme, devastadora. Um diretor excepcional que tem muito a dizer sobre o país onde nasceu.

4 Kill Bill: Vol. 1, de Quentin Tarantino.

Esqueçamos a divisão. Que suma a parte dois. Tudo que interessa no último trabalho de Tarantino está neste primeiro volume, que revela um criador fiel a sua obra, mas em evolução. Some a verborragia e aparece finalmente o cinema.

5 O Pântano, de Lucrecia Martel.

O filme mais perturbador dos últimos tempos. Martel assume a rudeza e a rispidez, maltrata os personagens para maltratar a falida família, para reclamar de seu país. A Argentina, para a criadora, merece ser esmurrada com força. Do caos surge a flor.

6 A Última Noite, de Spike Lee.

Spike Lee esquece a cor e fala do seu país. Faz um filme sobre reunir cacos, se reconstruir. Mesmo que para isso seja preciso apontar uma arma para as mais variadas direções, menos para a sua cabeça. É preciso achar um culpado.

7 X-Men 2, de Bryan Singer.

As HQs provavelmente nunca vão ganhar uma leitura tão plena. Bryan Singer fez um filme sobre o poder do preconceito. A coisa mais bonita que existe nos X-Men é o que povoa cada milímetro da tela: não há diferença.

8 A Viagem de Chihiro, de Hayao Miyazaki.

Miyazaki abre as portas da percepção. Abandona os pontos de referência, os parâmetros, e cria. Sua fábula é mágica não tem mensagem, não tem lições. Há apenas o deslumbramento das possibilidades da mente de uma criança.

9 Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola.

Um homem e uma mulher que se encontram, se conhecem, se apaixonam. Não há sexo. Amor de verdade pode viver sem ele. Há apenas a certeza do encontro e do ponto de encontro. Da descoberta, da identificação.

10 O Prisioneiro da Grade de Ferro (Auto-Retratos), de Paulo Sacramento.

O fim do autor? Não, autor que é autor divide esta função com seus personagens. A criação é coletiva, a visão menos unilateral. Um documentário onde não existe a incansável busca pela verdade. Porque ela não existe.

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